segunda-feira, 12 de julho de 2004

axiomas estéticos = abstração expressiva

O expressionismo alemão é uma cultura de crise, reflexo do profundo desalento espiritual gestado nos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial. A face da morte, estampada nos rostos de milhões de jovens precocemente ceifados, despertou os sentimentos de terror, misticismo e magia; o renascimento do horror , fim de todas as ilusões de poder; apoteose do indistinto e do vago.
Expressões vagas, forjam-se cadeias de palavras combinadas ao acaso, procura-se o significado "metafísico" das palavras, inventam-se alegorias místicas, desprovidas de lógica.
Luta, ao mesmo tempo, contra o naturalismo e seu objetivo mesquinho: fotografar a natureza ou a vida cotidiana.
O expressionista já não vê, mas tem "visões". Ou seja, a realidade não é mais contemplada segundo os dados dos sentidos, mas o homem consegue tão somente projetar "visões" subjetivas e interiorizantes do Real.
O artista expressionista procurar, em lugar de um efeito passageiro, o significado eterno dos fatos e objetos. Devemos - dizem os expressionistas - nos desligar da natureza e tentar resgatar a "expressão mais expressiva de um objeto".
Na dinâmica do expressionismo, o homem deixa de ser um elemento ligado a uma moral, a uma obrigação social, a uma família, a uma moral religiosa, a uma sociedade. A imagem do mundo se reflete no expressionista em sua pureza primitiva, a realidade é subjetiva e existe apenas em nós.
É fundamental ressaltar a "atitude da vontade construtiva", do eu que molda o real.
A energia vital presente no inorgânico, o estado de animação suspensa em que se encontram os objetos, são o caminho para atingir a essência de seu "absoluto", que independe do estabelecimento de quaisquer relações transitórias.

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Escritório do Dr. Caligari, de Wiene: O pendor para contrastes violentos, bem como a nostalgia do claro-escuro e das sombras, da noite indistinta, da névoa sinistra; abstração radical da realidade "sensível"; evocações fúnebres, de horrores, de uma atmosfera de pesadelo.
As perturbadoras experiências do roteirista Carl Mayer com psiquiatras durante a Guerra, e o testemunho real de Hans Janowitz, o outro roteirista, a respeito de um assassinato não resolvido de uma moça numa Feira de Variedades.
Crítica mais ou menos realista do absurdo de qualquer autoridade social.
Elucubrações obscuras de uma mente doente
Fantasmagoria: expressionista
O que interessa ao expressionista não é a manifestação "realista" particular de um evento, mas o caráter eterno deste evento, que somente a abstração do sensível pode descobrir.
Caligari estava obcecado com o trabalho de um místico italiano do século XVIII com o mesmo nome, com o objetivo de provar que a mente de um sonâmbulo poderia ser controlada por outros. A tirania de Caligari se reafirma através das visões subjetivas de Francis, que, rejeitando o discurso da normalidade naturalista do encadeamento lógico, revela o absoluto cruel e desumano do médico.
As linhas e planos tortuosos, oblíquos e abruptos do cenário provocam no público um efeito muito diverso do que o que seria logrado por uma composição visual harmônica.
A visão de perspectivas falseadas e imprevisíveis, de formas distorcidas, e a consciente intenção de evitar linhas verticais e horizontais, despertam no espectador os sentimentos de insegurança, inquietação e desconforto.
As imagens de Caligari são como reflexos em espelhos deformantes. Todas as expectativas são invertidas. A fotografia, assumida por Willy Rameister, de um claro/escuro de contrastes violentos, acentua ainda mais esse processo de inversão. O abstração solipsista da mente expressionista é retratada por uma cenografia de perspectivas inusitadas e inviesadas, fortemente anti-realistas, numa intenção estética onírica e sobrenatural.
As personagens de Cesare e Caligari são perfeitamente adequadas à concepção expressionista: o sonâmbulo, destituído de toda individualidade, isolado da vida cotidiana, criatura abstrata do inconsciente, mata sem motivo e lógica, enquanto seu mestre, que não possui sombra de escrúpulo humano, se considera acima do bem e do mal, e, implacável, é motivado por desígnios obscuros e impenetráveis.

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