quinta-feira, 25 de novembro de 2010

III Seminário Nacional de Formação do Cimi: Mudanças climáticas e grandes obras também foram temas de debates‏

Na tarde de ontem (23), foram realizadas mesas com temas bastante vigentes e graves durante o III Seminário Nacional de Formação do Cimi: Mudanças Climáticas e Grandes Projetos. O engenheiro florestal e membro da Via Campesina, Luiz Zarref, foi o convidado da primeira palestra, e fez um apanhado geral sobre as origens e causas da questão ambiental hoje, as crises pelas quais o mundo está passando e o impacto do ser humano na natureza. Mas a fala de Luiz pode se resumir em uma de suas colocações. “É fundamental ter a clareza de que é o capitalismo que leva à crise ambiental que vivemos”.

Zarref destacou que passamos atualmente por uma grande crise do modelo de produção hegemônico (capitalismo) que se divide em várias crises pontuais: crise alimentar, energética, política, ambiental, ou seja, uma crise sistêmica. Mas, de acordo com Zarref, a discussão sobre os impactos do ser humano já existe há mais de dois séculos, com o início da Revolução Industrial. Ser humano e natureza vêm sendo explorados pelo capital há séculos, mas o homem se aliena. A natureza não. Ela se revolta e não se submete. “O planeta sempre estará gritando contra o capitalismo!”, ressaltou. E é isso que se observa atualmente com todas as mudanças climáticas existentes.

Mas as crises foram sendo implementadas através dos anos por vários artifícios do capital. Zarref citou alguns desses pontos: a revolução verde na agricultura, aumentando a incidência de gases nocivos na atmosfera; o aumento substancial de automóveis individuais que trazem, além da poluição das ruas, a utilização de derivados do petróleo, extremamente poluentes; crescimento populacional em todo o mundo, principalmente de populações residentes em favelas; poluição das águas (mais da metade da água do mundo está poluída); solos no mundo todo contaminados; a obsolescência programada (produtos têm prazo de validade muito curto); complexo militar industrial (cria-se a necessidade de comprar armamentos e para isso a alta produção da indústria bélica com um gasto extraordinário de recursos naturais). Esses são apenas alguns fatores citados que aceleraram a crise do atual modelo.

E as mudanças climáticas, existem?

O termo mudanças climáticas ainda não é algo muito preciso para a maioria da sociedade. No próprio meio científico ainda gera discussões, visto que é um conceito novo, criado nos últimos 10 anos, de que o planeta está passando por grandes transformações de forma muito rápida. Zarref apresentou alguns exemplos de que estas mudanças já são nítidas: secas na Amazônia, como nunca se viu, aumento da temperatura dos oceanos e mudança de toda a dinâmica do planeta. “Os impactos são muito fortes e o capitalismo vem tentando apresentar propostas para diminuir estes problemas, mas na verdade são falsas soluções”, afirmou Zarref. O capital propõe mudanças na matriz energética, mas não propõe a discussão sobre aonde vão as energias. Sugerem a fabricação de carros ecológicos, mas não discutem o transporte coletivo. Ou seja, o capitalismo tem toda uma engenharia para lidar com a questão ambiental, para tentar sobreviver e o REDD é uma destas artimanhas.

A Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) é, segundo Luiz Zarref, mais uma forma de enganar que o capitalismo criou, pois os países não querem discutir redução da emissão de gases. “O REDD não é dinheiro fácil, eles não querem que o desmatamento acabe, e sim os grandes territórios, como as terras indígenas”, afirmou. E muitas Ong’s já adotaram a idéia e servem de intermediários para comunidades tradicionais receberem o “benefício”. Mas o que seria o REDD? Zarref tentou colocar de uma forma mais simples e clara: seria pagar para não desmatar mais. Nas últimas versões do REDD, cria-se um fundo com dinheiro público para que as comunidades possam usar em seu benefício. No futuro os fundos serão privados, como uma tática para as comunidades se atrelarem às empresas.

Soluções

Para Zarref é preciso pensar a autonomia dos povos e a auto-sustentação. “É preciso conhecer experiências de enfrentamento pelo mundo, conhecer os termos utilizados nas discussões da problemática”, destacou.

Por fim, Zarref ressaltou a importância das lutas contra o sistema hegemônico e a união dos movimentos nestes enfretamentos.

Grandes projetos: hidro e agronegócio

Tatiane Bezerra, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), e o cacique Neguinho Truká discorreram sobre os impactos dos grandes projetos nas comunidades tradicionais. Tatiane iniciou sua fala questionando: “Desenvolvimento para quê e para quem?”. Esta pergunta norteou sua apresentação sobre as demandas por energia que o capitalismo exige, e para onde vai tanta energia produzida com base em grandes violências. Tatiane apresentou vários dados sobre produção e gasto de energia. “São mais de 1,5 milhões de pessoas atingidas por barragens que não têm mais nenhum direito! O povo Guarani até hoje reivindica suas terras onde está construída a Usina de Itaipu”, relembrou.

A palestrante também lembrou como é feita a repressão às comunidades que se organizam contra esse avanço do capital, contra as barragens, contra as transposições e apresentou quais são as políticas das empresas: ganhar pelo menor preço na licitação do Megawate e depois negar direitos ambientais e sociais, reprimir o povo organizado.

Para ela é preciso ter consciência crítica e continuar na resistência com os movimentos sociais que lutam contra as barragens e os grandes projetos do capital.

Já Neguinho Truká apresentou o cenário não através de dados, mas dos fatos que acontecem nas terras indígenas. “Nas faixas da transposição do Rio São Francisco, as famílias sedentas são removidas; há 3 km do rio, em Cabrobró, a população utiliza água de carros pipa para beber”, afirmou.

Assim, Neguinho foi mostrando como a transposição do rio São Francisco traz sofrimento para as comunidades. “Muito lugar está desertificado, agora tem prostituição infantil, uso de drogas, somos prejudicados pela falta de água e o governo reserva muito mais para a nossa região”, declarou. “O São Francisco depende de todos nós! Esta é a nossa bandeira de luta!”, finalizou.

----------
24/11/2010
Cimi - Assessoria de Imprensa