sexta-feira, 18 de março de 2005

ASNO ENDOSSA DESERTO

Pouca gente
Desocupado desolado expia
Pouco inteligente carrega isto

Há cem anos, o mesmo: dez mandamentos.
O deserto seria um bom lugar
Desci o lustre
Minha calça rasgou num prego

Este é o caminho certo
O gramado sujo de esterco
O ronco do motor
A graxa na corrente
Nos ares como na época de Chucky Berry
Derivados do petróleo

Sofremos por não sabermos ouvi-los
Desperdiçamos chances
Isso se repete
Incapacidade de chegar ao topo
120200

O passado retorna como a imaginação
As memórias de ontem
Lembranças do que aconteceu
Enquanto andávamos,
enquanto falávamos,
enquanto ríamos
Aqui e lá, a mesma coisa
Alguém vivo viu, sentiu e sofreu

A pulsação primordial à vida
A contração. E depois dela,
Apertado e desconfortável
É a vida
Daqui pra algum lugar
De algum lugar pra cá
Não se sai daqui
Corpos misturados re-são

Recicle os objetos errantes
Almejam o andar mais alto
E insistes em temer seus filhos

Destrua as carcaças defeituosas
O próximo será igual a você
Mais destemido e ingênuo

O esforçado
O eremita
O cigano
O amigo

O contrário
O côncavo
O suficiente
O continente

Tudo pelo mesmo de sempre
A morte por químicos
Flor sem perfume

segunda-feira, 14 de março de 2005

PALESTRA NO TEMPLO VAISNAVA (RJ)

“a função das partes é servir ao todo, assim como as pernas, mãos, dedos e ouvidos destinam-se a servir ao corpo inteiro.
Sempre estamos prestando serviço a alguém, seja nossa família, país ou sociedade. Se não temos ninguém a quem servir, as vezes criamos um animal de estimação e prestamo-lo serviço.
Estamos constitucionalmente destinados a prestar serviço, porém, apesar de servirmos da melhor forma possível, não ficamos satisfeitos, tampouco a pessoa a quem prestamos serviço fica satisfeita.
Na plataforma material todos estão frustrados. O serviço deve ser corretamente orientado. Se quisermos servir a uma arvore teremos que molhar-lhe a raiz”.
OBJETOS DOS SENTIDOS

SERVO DO SERVO

o vendedor serve ao freguês
o artesão serve ao capitalista
um amigo serve a outro amigo
a mãe serve ao filho

sob influencia do tempo
e circunstancia particulares
qualquer que seja seu estado
prestar serviço aos outros
é ocupação eterna
nenhuma parte do corpo pode
ser feliz sem cooperar
com o estômago

transcendental serviço amoroso a verdade suprema

professas pertencer a determinada espécie
designação temporária

um cristão pode mudar de fé
um americano pode ser banido de seu país
protestante ex-macumbeiro
adulto ex-criança

NÃO DESEJAR INCESSANTEMENTE E ESTAR SATISFEITO COM O QUE LHE É FORNECIDO DEVIDO AO SEU SACRIFÍCIO

os olhos desejam contemplar belas formas
os ouvidos querem ouvir sons agradáveis
o paladar, saborear alimentos saborosos

é aí que está o perigo
desfrutar discriminadamente
se não regular isso
tentando inutilmente satisfazer
os sentidos, terás de conviver
com diferentes reações
que irão ser a causa de sofrimento

estamos sofrendo por que estamos
distantes de nossa origem
a felicidade que experimentamos
através do contato com os objetos
dos sentidos é temporária
e ilusória

A ALMA ESTÁ EM TODA PARTE

eu a perdi
sou um pedaço querendo usufruir como o todo
contemplo os objetos dos sentidos
ilusão: confusão da memória
desenvolver apego, luxuria, ira
perda da inteligência
cair no poço material

se obtém a liberdade
destruindo a aversão

energia externa
em todas as partes
eternamente e sem perder esta consciência

A VONTADE SUBJULGADA DO INVIVÍDUO

todo tipo de fundamentalismo
é automaticamente criticado
por quem está de fora

destruir-se-á tudo
para se recuperar valores

matar não é necessariamente
um ato pecaminoso
se o objeto da ação é:
a defesa da causa beneficente

é contraditório
matar ser
uma ação boa

SRI

ver
com a mesma visão

um erudito
uma vaca
um elefante
um cachorro
um comedor de cachorros

pois todos os corações contém paramatma

CONFORTO

objetivo da vida para o homem moderno

comer
beber
manter relações sexuais
divertir-se e gozar a vida
desenvolvimento econômico
avanço da consciência materialista

uma vida prolongada
que só se preocupe com o seu umbigo
não é muito importante

ILUSÃO

traduz em sons
o ambiente
pelos se arrepiam
olhos cheios d’água
cobiça deriva da paixão

a conquista da morte
jamais tocado pela
contaminação da
atividade mundana
das qualidades materiais
e do tempo

a ti
orações
se prostram
adoram
meditam

és tudo que é desejável
paixão e ignorância
sofrimento, ilusão e medo

bondade é renunciar
ao interesse egoísta
dedicar todo o ser
a fonte da existência

destemor
Narayana
sábios
pleno controle da fala
sempre presente
sentidos, coração, objetos

QUEM AGE SÃO AS TRÊS GUNAS

executar serviço sem desejo de lucro
sem alegar alguma posse
sem letargia nem inveja
livrar-se do cativeiro
das ações fruitivas

o apego e a aversão relacionados
com os objetos dos sentidos
são obstáculos no caminho da evolução

executa seus deveres prescritos mesmo com defeito
seguir o caminho dos outros é perigoso
Cinema Desconstrução é isso mesmo. O momento, paixão, dor, incompreensão
e enfrentar preconceitos.

E esse vai ser meu manifesto desconstrução por umas semanas.
O dogma é fazer o que quiser e ser contra qualquer um que queira registrar a liberdade no 'marcas e patentes'. E é perder tudo o que mais a gente quer no mundo se for o caso, mas nunca ceder ao que te parece sujo.

Também não vale só falar que é inovador e essas babaquices, tem que fazer cinema errado, mostrar cinema errado, transgredir e ter inimigos caretas - não que tu procure, é apenas inerente e impossível de evitar.
Tem que ser corajoso, morar em Sierra Maestra, ser mau falado pelas senhoras de família que pensam que o filme sobre a vida do pelé ou do garrincha é uma emoção e que garotas que filmam curtas punks são putas.

E tem que, as vezes, ser verborrágico e arrogante como o Glauber. Outras vezes sentir muita tristeza e ficar bem quietinho falando com as pessoas que nunca vão te ouvir num monólogo
solitário.

E tem que saber que depois que seu filme passar vai rolar um mar constrangedor de silencios. E quando as luzes acenderem as pessoas vão te olhar esquisito. Alguém sempre vai dizer que tem medo de você. E alguém sempre vai dizer que odeia você. Mas alguém sempre vai querer transar com você porque cinema desconstrução, no fundo, é tri pop e muito roquenrou.

Entretanto, a única coisa que fica sempre igual nos manifestos descontrução, que todos os desconstruidos do universo devem usar no final, quando tudo estiver perdido e você não tiver uma chance de dizer que não fez por mal mas por paixão e por que você não pode mentir,
é o seguinte:

VIVA O ERRO E FAÇA UM FILME ESQUISITO!

biAh weRTHer
orgulhosa realizadora de cinema desconstrução
A MENTE, REFLEXO DO MUNDO EXTERIOR

“É o que eu queria
Todo mundo cantando
caminhando e cantando
todo mundo. Cedo, cedo”

Querias falar comigo?
Pó! Olha só! É mesmo?
Que satisfação!
sem nenhum som

até que ponto flui
Até que. se cria

O que eu ia dizer é que
dar com os burros n’agua
talento é dinheiro
meu amor, perco em terceiros
MEDO DA ZABUMBA

amargura, amargurado
em plena emoção
mergulhador, respirador
que lindo! que lindo!
tem que ver aqui
medo de orgulho
tem que ver na pestana, na peixeira
Olha aí! tem que mostrar.
agora é só fruto
tu é malandro
vai tomar uma varetada no meio da cabeça
microfonia, sirene, cachorros, maquina
vai começar mais certo. cheio de agonia
escrevendo o som. duplicata sem valor
é o velho mesmo. é o velho, rapa.
tem nota. tome corda
acorda! onde é que ia te levar?
Ah, não! você!
não passou na minha cara
agora ta passando o quê?
A BOMBA POLUIÇÃO?
A BANDA POLUIÇÃO!

você reparou nisso?
não reparou.
você regenerou
Botou nele isso

agora vamos embora
lá fora estão nos esperando.
querendo abrir a porta
nós vamos embora
estamos esperando osenhor
meio a meio
tem que rir pra não chorar, se não já era
conflituo e capacito
como no méier
no méier é que é bom

fique à vontade
trouxe a calculadora
o impasse
é proibido ganhar
é moda cochilar
é proibido cochilar
ta de bobeira aí, pó!
acordeom afinado à esquerda.
que a felicidade contenta
é por ganhar dinheiro
é impossível a oportunidade
um companheiro meu faleceu
é proibido cochilar no harinama
está rolando um na orla
é proibido cochilar
tá amarrado!
virou crente
é bom ouvir você, mente.
COM A 01012005

contando grandes catástrofes do passado
ilude-se q hj ela é bela
os sustos nos são dados
pela não prevenção

material a ser manipulado
o eixo da terra mudou
inconstante universo
terremoto espetacular

é a eterna guerra
insaciável

demes dera
alpakser
de om dê
iufá kssalô

DIFERENÇA ENTRE PENSAR, FALAR E AGIR

não tenho como julgar outrem

tomar decisões baseadas em achismos

o cara diz que não precisarei pagar pois não ficarei

mas eu disse que não ficaria direito

ele se disse amigo e eu não sou

o que é verdade

não pode ser só isso que me faz não querer tocar com ele

quero tocar com ele pelas suas amizades

eu me recuso a continuar

preciso tocar pelo som- pela musica

musica

meu instinto diz: não toque mais no mj

cresça!

pegar aquela linha foi criancice

tu nem solta pipa

MAREEN E DELPHINE 271204 2am
sem fronteiras a vida se completa

noite de natal
virada com a família
depressão
dia seguinte quente

há uma festa pra ir
amor não correspondido
rumo à vazia Lapa

promessa de um novo mundo ou desilusão
o efeito do vinho
duas francesas
mareen e delphine
26 e 28 respectivamente

artista de picadeiro e dj
lindas
há 1 mês no brasil
à trabalho
o diretor é um charlatão
o namorado está em curitiba
há 3 dias no rj
na casa do tio rico de mareen

a boemia da Lapa
toda fechada
só os podrões nas ruas
ta na rua e sinuca abertos
a escadaria... a de sempre

falamos um pouco sobre tudo
de quedas d’agua a lojas de disco

delphine conversa melhor por saber espanhol
mareen tem-se que apelar pro inglês
Ela assistiu um show do Fugazi
saideira no sinuca
...

MAREEN E DELPHINE 301204 00:40h
(afobado come cru) ou “o latino tentou me beijar” ou nos ensinam a querer ser o melhor na vida
:
22h: encontro marcado
desde cedo na Lapa vazia
Chegaram assim que conhecemos Juan, o andarilho
samba!

vamos beber
segundas intensões
Parece que elas atraem negros
já é o terceiro que para pra encher o saco desde a primeira vez

posso estar explodindo por dentro
se não verbalizar ninguém saberá

pilha colocada pra irmos pro ap.
samba!!
eu o faria mas o animal falou mais alto
fomos.

depois de varias caipirinhas
arrisquei um beijo em mareen
em vão
espero que continuemos bons amigos
MACACO PELADO 1

antepassados répteis
admirável meio novo

avós comedores de insetos
evolui-se conforme a necessidade
vizinhos corredores e assassinos

no mundo das arvores
maiores e mais pesados
de saltadores ao solo

o clima os expulsa do ‘paraíso’
quem melhor se adapta, sobrevive
competição com os carnívoros e herbívoros
comedor de frutos!
filhotes e pequenos doentes são suas presas agora
SHEILA+MATUTO-VILAR 25122004

tudo me foi tirado
câmera, amigos, namorada
violão, guitarra, computador
entorpecente, bondade, paixão

sempre fico mal
em aniversário e fim de ano

com meus amigos comprometidos
sobrei
o relacionamento com eles é musical
ou de sair da realidade

tudo bem!
vou me dar uma moral agora
vou tomar aulas de bateria
fazer curso de áudio
e procurar emprego

+capoeira+
NÃO VOU MAIS PROCURAR PELA FLOR

eu quis te-la
eu quis ser dela

não há amor sem correspondência
amante do ex
q c foda!
quem não pode me dar o que eu quero
quem não deve fazer parte dos meus dias

cruze e seja feliz
seja feliz, pobre criança!

quero quem me queira
que me empurre
desilusão!

ano sem realizações
profissionais e de relacionamento

magoas!
felicidade perdida
procurar outras?
REALIZAR O AMOR. 221204

é o corpo que morre
mas em condições normais
o homem está acelerando o tempo

algo errado
tenho raiva

desiludido com os humanos
fui enganado
não sou preparado pra esse mundo

cada um, uma maneira de amar
palavra falha

varias maneiras de amar
espero pela quarta
espumando pelas tripas
latrinas de escremento

O amor não está
Ela está na minha cabeça
tentando me manter na loucura

Demais!
Demais!
TV

existem pessoas interessadas e as que são pagas para distrair e entreter.
necessidade cultural
raciocínio desenvolvido
sensibilidade aguçada

objeto eletrônico
companheiro inseparável
evolução tecnológica
desnecessária à humana
televisão

passado e futuro
num piscar de olhos
num clique do controle

telas planas gigantes
capital suficiente para brincar de ter

computador
secretária eletrônica
fax
internet
só o desejo é o velho
alienação por corpos

janela para os mundos
radio
um passo ao conhecimento futuro de vidas que nos guiam
+ 1 DIA ACORDADO, HK! 16/01/98

Como erguer os braços
indo no sentido contrário
como saber demais

como apaziguar o sistema
imunizado
como detetizar fazendas

como substituir combustível?

a resposta para essas e outras perguntas é
fazendo filmes

uma mensagem do primo eu para os ouvidos internos

fazendo filmes
fazendo filmes
cenas da rua
imagens em movimento
isto é tudo, cante
isto é tudo, tristeza
isto é tudo, sim

é tudo mentira
TO’U, Be&F. 21/12 10:50

o que escrever sobre o mesmo tema de sempre
às perfeitas
as muito elas existem
impressionamte-mente sim

eu estou dentro do que penso
eu sou o centro do que vejo
eu sou um isqueiro no oceano
eu estou por fora do que vejo

eu queria fazer isso para as muito
eu sei, agora
isto é para as perfeitas douradas

nada
nada que eu tente
nada
tudo não me faz esquecer

até quinta agora só isto
por favor, me deixe raciocinar normalmente
saia!saia!
PALESTRA:
CENTRAL DO BRASIL

Não interferimos na luz natural, não nos distanciamos dela, aproveitamo-na.
luz, cores e som servem para que as pessoa sintam-nas e não as vejam simplesmente.

sentimento do choro- a tentativa de trazer o maximo da realidade:
Quem somos, de onde viemos, pra onde vamos?
-reencontro consigo mesmo
- se dão conta da terrível indiferença do nosso tempo.

cinema e emoção;
“ a generosidade da personagem lhe abre outras portas, possibilidades”
“quanto mais local – se fecha pra dentro- se é mais universal se consegue ser”. Talvez nem sempre.
-Cinema deveria ser um instrumento de conhecimento.
livros:

Introdução à gravação no pc-
The Martian Chronicles – Michael Anderson
sigcromos - a formacao da poetica musical: Ney Carrasco
eneida- virgílio
o inferno- dante
a interpretação dos sonhos- freud
psicologia para neurologistas- darwin
CALIC(O)- [do grego chálix, ikos]. Elemento de composição=”pedra”; cascalho=calicose- [de caliccos+ose] subs. fem.. Pneumologia. Silicose

CALIGO- [do tax. caligo] s.m. zool.
1-grande gênero de borboletas brussolíneas que habitam a América do Sul.
2- Qualquer espécie desse gênero, como p. ex., a caligo eurylocus, vulgarmente conhecida como borboleta-coruja, que tem uma grande mancha que lembra o olho da coruja, na parte posterior de cada asa.
3- qualquer espécie desse gênero
29/08/2002

Estratégias de dominação e mapas de construção da hegemonia mundial

* Ana Esther Ceceña
Tradução: Maria Lúcia Badejo

... nossa dificuldade para encontrar as formas de luta adequadas não provém de que ainda ignoramos em que consiste o poder?

... o poder é a guerra, a guerra continuada com outros meios ...

Michel Foucault

O mundo capitalista, sua expansão e seus limites são construídos sobre a base da concorrência. A concorrência e o incremento constante do lucro, a luta pelo poder, a apropriação ilimitada de recursos de todos os tipos e a confrontação permanente de horizontes políticos e civilizatórios é o motor que estimula o desenvolvimento incessante das forças produtivas e de todos os mecanismos que contribuem para fixar as regras e margens do jogo do poder e para entrar na arena em condições de ganhador. Neste sentido, é da concorrência e desta situação consubstancial de conflito que emergem as possibilidades, conteúdos e alcances da conformação do sistema mundial e de seus espaços de vulnerabilidade.

Trata-se, sem dúvida, de um processo social que, como reconhece experimentadamente George Soros, está longe de responder a leis naturais de comportamento, e no qual os sujeitos (as classes, os grupos, os povos) são os que constroem a história. Uma história marcada pelo conflito, plena de contradições e na qual o poder é simultaneamente combatido e disputado e tem que ser reconquistado e redesenhado dia após dia.

A história é uma construção social, é cenário de atuação, dissipação e reconformação de sujeitos e, entre estes, sem dúvida, o sujeito mais organizado, com maior coerência e mecanismos de sustentabilidade no mundo contemporâneo é o da alta burguesia assentada nos Estados Unidos. Esta burguesia, a mais globalizada de todas, soube construir um Estado capaz de expressar seus interesses e ideologia particulares como da sociedade em seu conjunto, não só nacional mas mundial, e fazê-los valer utilizando todos os elementos a seu alcance: militares, tecnológicos, financeiros, diplomáticos e culturais. As formas de representação deste poderoso sujeito histórico variam e sua prática social de domínio e acumulação de poder se expressam de maneira diversa, de acordo com seus planos de atuação e com o conjunto dinâmico de elementos que compõem a complexidade concreta em que se joga a capacidade hegemônica global.

A hegemonia é, em todos os terrenos, a busca principal e o emblema da vitória. Em uma sociedade regida pela concorrência e o conflito, o triunfo próprio e a derrota do adversário constituem seu ethos e o elemento ordenador das relações sociais. Se a aproximação à análise do sistema mundial se faz a partir dos sujeitos em conflito e não de suas expressões coisificadas, é possível perceber o problema da concorrência como um campo de batalha no qual a posição e as estratégias empregadas são os elementos de definição de resultados.

A Hegemonia e seus planos de construção

A hegemonia é uma categoria complexa,. que articula a capacidade de liderança nas diferentes dimensões da vida social. O hegêmone, ou líder, que neste caso é necessariamente um sujeito coletivo, tem que ser capaz de dirigir pela força e pela razão, por convicção e por imposição. Ou seja, a hegemonia emerge de um reconhecimento coletivo que compreende tanto qualidades e preceitos morais que adquirem estatuto universal como a energia ou força para sancionar seu cumprimento.

Gramsci, preocupado não tanto com a relação entre estados, mas com a organização da classe operária e sua capacidade para formular uma interpretação do mundo que transcendesse a da burguesia, define-a justamente como a capacidade para transformar a concepção própria, particular, em verdade universal, seja porque as condições materiais que a geraram e a ação do sujeito coletivo que a sustenta conseguem construir amplos consensos, seja porque todos os mecanismos de correção social e estabelecimento de normatividades afins a esta concepção do mundo se impõem como essência moral e valores compartilhados, mediante o recurso à violência em todas as suas formas, justificando, assim, a sanção à dissidência em qualquer um dos campos da vida social.

A hegemonia é mais uma construção de imaginários que, em conseqüência, leva à reorganização das práticas sociais mas a construção de imaginários não é uma externalidade do sistema social, e sim seu produto mais profundo. "A hegemonia nasce da fábrica e para execer-se só tem necessidade de uma mínima quantidade de intermediários profissionais da política e da ideologia". Para Gramsci a essência da concepção do mundo está na vida cotidiana, na relação concreta e específica dos trabalhadores italianos com o mundo, relação que começa por seu espaço de socialização fundamental: a fábrica. Ou seja, a concepção do mundo não é imposta por Leviatan, este contribui para forjá-la garantindo o cumprimento das normas morais reconhecidas coletivamente (ainda que por um coletivo contraditório), mas a realidade imediata do trabalhador é a que traça seus horizontes de compreensão e de possibilidade.

A hegemonia só é possível mediante um compromisso estabelecido coletivamente que leva a avalizar e compartilhar as regras de um jogo que, se não oferece perspectivas de ganhar, pelo menos não atenta contra a coesão social; a governabilidade está garantida sempre e quando se jogue, sem mudar as normas, mesmo sabendo que o jogo não nos pertence, ainda que nos inclua.

A hegemonia entendida assim, como reconhecimento de uma ordem social natural ou inapelável, mediante a incorporação de seus valores como universais e produto do compromisso coletivo, requer uma construção simultânea em vários planos:

- militar, criando as condições reais e imaginárias de invencibilidade;
- econômico, constituindo-se em paradigma de referência e em sancionador, em última instância;
- político, colocando-se como fazedor e árbitro das decisões mundiais;
- cultural, fazendo da própria concepção do mundo e seus valores a perspectiva civilizatória reconhecida universalmente.

Para os generais do Departamento de Defesa (DoD) dos Estados Unidos, cujo saber está orientado pela eficiência prática, a hegemonia se apresenta como objetivo inapelável e sua busca circunscreve-se ao projeto das melhores estratégias para assegura-la. Sua missão consiste em defender os interesses nacionais dos Estados Unidos em qualquer circunstância e qualquer parte da geografia mundial. A hegemonia, neste caso, definida diretamente como dominação ou liberdade para pôr e dispor aos quatro cantos do horizonte, é um pressuposto que antecede a formulação de sua política.

"A manutenção da força militar e a capacidade de usa-la em defesa dos interesses da nação e do povo é essencial para a estratégia e compromisso com o que os Estados Unidos se aproximam do século XXI (...) Como a única nação no mundo que tem a capacidade para projetar um poderio militar de envergadura planetária para conduzir com efetividade operações militares de grande escala longe de suas fronteiras, os Estados Unidos têm uma posição única (...) Para manter esta posição de liderança, os Estados Unidos devem contar com forças rápidas e versáteis, capazes de enfrentar um amplo espectro de atividades e operações militares: desde a dissuasão e derrota de agressões em grande escala até a participação em contingências de pequena escala e o enfrentamento de ameaças assimétricas, como o terrorismo."

Os interesses vitais dos Estados Unidos, em torno dos quais se organiza toda a atividade do DoD, compreendem:

- proteger a soberania, o território e a população dos Estados Unidos;
- evitar a emergência de hegêmones ou coalizões regionais hostis;
- assegurar o acesso incondicional aos mercados decisivos, ao fornecimento de energia e aos recursos estratégicos;
- dissuadir e, se necessário, derrotar qualquer agressão contra os Estados Unidos ou seus aliados;
- garantir a liberdade dos mares, vias de tráfego aéreo e espacial e a segurança das linhas vitais de comunicação.

As dimensões do cenário

O cenário em que é dirimida a hegemonia mundial modificou-se substancialmente com dois acontecimentos paradigmáticos, cada um dos quais com implicações e seqüelas de diferente caráter:

A derrota na guerra do Vietnã, que provocou indiretamente uma crise de superprodução no setor militar e a urgência de racionalizar os enormes recursos empregados em uma aventura malograda.

A ruptura do mundo socialista, que provocou a repentina ampliação de territórios a ser controlados e incorporados.
O primeiro acontecimento acelerou a crise do fordismo ou da produção em massa desenvolvida sob os auspícios da escalada bélica e provocou uma profunda reestruturação nos processos de produção, que, em muitos momentos, abriu espaços de vulnerabilidade em áreas de definição tecnológica estratégica dos Estados Unidos e levou a um reposicionamento importante da Europa e da Ásia no novo cenário da valorização do capital. Entretanto, como veremos mais adiante, o jogo estratégico da burguesia assentada nos Estados Unidos terminou por recompor as condições de superioridade e liderança dos Estados Unidos na fixação do paradigma tecnológico e no controle dos recursos e dos territórios estratégicos.

O segundo acontecimento é resultado da guerra fria e, sem dúvida, uma conquista da força global articulada pelos Estados Unidos. A grande porção geográfica que representam esses territórios, o enorme número e amplo espectro de qualificações dos trabalhadores potenciais que aportam e as jazidas de petróleo, urânio e do resto dos minerais e outros recursos essenciais que contêm converte-os em um campo estratégico de disputa pelo poder ecpnômico mundial. A ruptura do ex-mundo socialista significa uma modificação de possibilidades relativas dos principais atores do jogo do poder, mas o risco político que ainda compreende, sua parcial ingovernabilidade e a incógnita acerca dos conflitos ativos que abriga impedem vislumbrar claramente o futuro de sua incorporação no acordo mundial.

As enormes riquezas naturais dessa região, que constituíam um dos elementos de contenção ao poder concentrado pelos Estados Unidos, ainda não são claramente vertidas sobre o mercado mundial, ainda que, efetivamente, sua fragmentação já não autorize a considerá-los como contrapeso. O mesmo ocorre ao ficar desarticulado o grande potencial bélico, científico e tecnológico desenvolvido pelo bloco socialista e que, em boa medida, está representado por seus cientistas ou pelos especialistas de diferentes tipos concentrados em seus sistemas de segurança (os criptógrafos da KGB, por exemplo). Isto justifica o interesse particular que concedem as estratégias de segurança nacional dos Estados Unidos à estabilidade política e à defesa das "causas da democracia" nesta região.

O cenário global de que dispõe o sistema mundial capitalista ampliou-se notavelmente. Entretanto, incrementou a incerteza e modificou seus elementos de risco: passou-se do risco controlado ou calculado ao imprescindível. A grande tecnologia bélica e a superioridade em efetivos treinados que foram postos em ação no Vietnã não puderam vencer o exército do povo, que, ainda que tenha lutado na guerra, era composto de civis sem disciplina nem treinamento bélico; foi uma guerra de resistência, não-convencional nem com normatividades preconcebidas, como as que ameaçam repetir-se, no futuro próximo, em versões tão variadas como as do mosaico cultural que subjaz à edificação capitalista simbolizada pelo pensamento único. Por outro lado, há um deslocamento difuso de um conjunto de "poderes" locais que desdobram ou questionam as organizações nacional-estatais militarizadas (aberta ou encobertamente), provocando uma relativa indefinição societal e a ruptura de normas estabelecidas; máfias, drogas, saques e um conjunto de forças desgovernadas que não reconhecem autoridade e funcionam com lógicas inesperadas tomaram o lugar do inimigo ordenado e previsível ou do aliado incondicional capaz de manter o controle social em sua jurisdição.

Efetivamente, o horizonte ampliou-se, mas seu controle se fez mais difuso. Nem o maior hegêmone, constituído agora como poder global, é capaz de dominar todas as forças sociais organizadas ou descontroladas que o formam. Neste contexto, o projeto de estratégias e o próprio pensamento estratégico são colocados em um lugar central dentro da organização da dominação e da concorrência. Isto repercute na totalidade militarista que foram adquirindo as relações mundiais, e que tem evidentes e profusas manifestações na vida cotidiana e na criação de imaginários, e explica por que a teoria e a práxis militares foram comendo os espaços de expressão do político.

Formas de representação do sujeito hegemônico

A discussão em torno das formas que assume a representação da classe ou de uma de suas partes, como expressão visível de uma concepção do mundo que corresponde ao imaginário criado pelo exercício cotidiano do poder, é muito ampla. O Estado, como espaço de síntese das contradições e dinâmicas sociais, não é nem pode ser concebido de maneira simplista como o instrumento da classe dominante, ainda que, de acordo com Michel Foucault, "...poder é essencialmente o que reprime". O Estado efetivamente representa os interesses e concepções dominantes da sociedade que lhe dá sustentação, mas não constitui sua expressão direta. O Estado é um espaço de mediação e é nessa medida que pode constituir-se em representação coletiva do imaginário social, construído sobre a base de relações de poder e de dominação entre as classes e grupos. O Estado é expressão das relações hegemônicas dentro do universo social que o constitui, sem perder a dimensão de suas contradições.

Sem entrar mais no terreno de uma discussão que exige uma reflexão à parte, o estudo da economia mundial, das relações mundiais de dominação e da construção da hegemonia nesse mesmo nível tem como um de seus referenciais fundamentais o Estado norte-americano. Este, efetivamente, aparece como o articulador e cabeça do capitalismo mundial, e como portador e avalista dos valores que, sendo-lhe próprios, são apresentados e resguardados como universais. O norte-americano, até agora, é o único Estado que tem a possibilidade real de ser representante, globalmente, de um poder também global, que emerge, entre outros, da escala planetária alcançada por seus processos econômicos, militares e, em certa medida, culturais.

Entretanto, esse poder global, no âmbito econômico (produtivo, tecnológico, comercial, financeiro) é produto da práxis capitalista da alta burguesia. O protagonista direto do processo de transnacionalização da economia é essa parte da classe dominante que se passou a chamar grande capital, termo que a identifica, mas que evita sua significação como sujeito.

A alta burguesia transnacional assentada nos Estados Unidos, à qual chamaremos alta burguesia norte-americana para abreviar (ainda que este termo requeira múltiplas precisões), é a portadora do emblema paradigmático do sistema mundial de produção, entendido em seu sentido mais amplo. Dentro do imaginário mundial, mesmo considerando o reconhecimento da liderança parcial de seus concorrentes-sócios, os símbolos do paradigma dominante continuam sendo erguidos pela IBM, Intel, Microsoft, Internet, Novartis, Monsanto, General Motors, Crysler, Exxon, Texaco, AT&T, ITT, Hughes, e tantos outros, como Coca-Cola e Sabritas, contribuem para definir os referenciais da vida e da reprodução social.

O trajeto entre o estabelecimento de lideranças e a construção de um reconhecimento geral de superioridade e direção só é possível mediante a conformação de um sujeito com múltiplas formas de representação articulada. O sujeito dominante do processo geral de reprodução ou do sistema capitalista mundial é constituído pela alta burguesia norte-americana que aparece sob a forma das grandes empresas transnacionais, dos volumosos fluxos de capital financeiro que vão fazendo e desfazendo economias e do Estado norte-americano, como portador do interesse geral e dos valores universais. Ou seja, o sujeito social dominante é um sujeito que se desdobra e que aparece, em nossa perspectiva, sob duas formas fundamentais: a do Estado norte-americano e a das grandes empresas transnacionais de base norte-americana. Por isso, as estratégias parciais de domínio e concorrência nos mercados, e a política do Estado no terreno da segurança nacional, mantêm uma coerência impecável em linhas gerais.

As estratégias de reafirmação da hegemonia

Entendemos que existe uma grande quantidade de mediações entre a ação individual e a síntese social que permite construir e/ou identificar um sujeito coletivo. Entretanto, desentranhá-las é parte de uma tarefa também coletiva à qual somente pretendo somar-me modestamente. Para isso, proponho realizar uma aproximação ao pensamento do Pentágono pela via de sua concepção do estratégico.

O projeto mais completo e sistemático sobre o ethos hegemônico está explicitado nos documentos oficiais do DoD e, particularmente, nos que se ocupam do projeto das estratégias de defesa da segurança nacional dos Estados Unidos, traçados a partir da última Quadrennial Defense Review (QDR).

A estratégia de segurança nacional para um novo século

O secretário de defesa, William Cohen, na ocasião em que apresentou seu informe de 1998 ao Congresso, assinalou que: "A América inicia o novo milênio como a única superpotência mundial, como a nação indispensável".

De acordo com o Annual report to te President and the Congress. National security strategy for a new century, "…os Estados Unidos se encontram em um período de oportunidade estratégico. A ameaça de guerra global retrocedeu e os valores fundamentais da nação de democracia representativa e economia de mercado são adaptados em muitos lugares do mundo (...) Suas alianças (...) se adaptam exitosamente".

Os objetivos gerais que o DoD deve garantir dentro esta estratégia de liderança para o novo milênio são:
- assegurar a criação de um ambiente internacional favorável aos interesses dos Estados Unidos;
- ter a preparação e presteza necessárias para responder ao amplo espectro de crise que ameaça os interesses dos Estados Unidos;
- ter a previsão necessária para estar preparados diante da incerteza do futuro próximo.

A política de defesa dos interesses nacionais dos Estados Unidos, que é a razão de ser do Estado norte-americano, está sintetizada nestes três objetivos, entretanto cada um deles encerra uma enorme complexidade e implica uma ação compartilhada e coerente de todas as representações desdobradas do sujeito hegemônico. Ou seja, o estratégico é um campo interdisciplinar no qual, sobretudo, é colocada em evidência "...l’articulation l’une avec l’autre de l’économie et de la violence comme double système de menace..."(Joxe:1997).

Com efeito, existe uma estreita vinculação entre os interesses econômicos e geoestratégicos, que tem como eixo a vantagem e/ou dominação tecnológica e manifesta-se o mesmo na estratégia de concorrência das empresas produtoras dos sistemas e equipamento de produção para uso civil que nos critérios de segurança aplicados à produção e concepção dos sistemas de comunicação ou armazenamento utilizados pelas forças militares norte-americanas.

"De 1940 até o presente, o Departamento de Defesa (DoD) encabeçou agressivamente a revolução na tecnologia de informação: a pesquisa e desenvolvimento em tecnologia de informação foi e continua sendo uma de suas competências fundamentais.

A Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (ARPA) do DoD, líder em tecnologias avançadas, apóia a indústria para melhorar a arquitetura e aplicações da infra-estrutura nacional de informação (NII). O DoD, como maior usuário dos serviços de informação, faz substanciais investimentos em infra-estrutura de informação." (Deutch:1994)

O grau de objetivação dos conhecimentos e experiências em todos os planos da vida social alcançado pelas forças produtivas estabelece uma barreira ou sanção tecnológica empregada no terreno econômico como instrumento de eliminação da concorrência e de atração de rendas tecnológicas (de plusvalor extraordinário), ou seja, de construção de uma posição de superioridade e liderança; e, no terreno militar como elemento de superioridade estratégica e de controle ou submissão do inimigo (o outro que compõe a quase totalidade da população mundial).

1. Assegurar a criação de um ambiente internacional favorável aos interesses dos Estados Unidos

A criação de um ambiente favorável aos interesses dos Estados Unidos implica, na realidade, a subjugação de qualquer expectativa de autodeterminação por parte do resto do mundo, assim como uma renúncia de fato à história e cultura próprias. Como é evidente, esta renúncia ao próprio ser requer efetivamente a construção de um contexto que a faça possível e que, inclusive, a faça aparecer como vontade geral. O mercado e a democracia, os dois pilares ideológicos da ofensiva hegemônica, sintetizam esta política, entretanto, não se requer apenas a imposição ou indução de um imaginário amigável com estes princípios e, sobretudo, com o conteúdo que lhes confere a ideologia do pensamento único, ainda que o impacto e penetração dos meios de comunicação de massa seja um eficaz criador de consensos mediante a aculturação ou diretamente a assimilação cultural que promove. A persuasão neste terreno não parece, entretanto, suficiente, a julgar pela grande quantidade de movimentos de resistência ou confrontação aberta que desencadeou. Necessitam-se estímulos mais efetivos e confiáveis, como os que põe em prática o DoD:

"Além dos outros instrumentos de poder, como a diplomacia e os investimentos e o comércio econômicos, o DoD tem um papel essencial na conformação de um ambiente internacional seguro a partir da perspectiva da promoção e proteção dos interesses nacionais dos Estados Unidos (...) fortemente integrado com os esforços diplomáticos." (Cohen:1999. Sublinhados meus)

As finalidades declaradas são três:
Promover a estabilidade regional. Fortalecimento dos aliados e de seus compromissos e vínculos com os Estados unidos mediante, entre outros, transferência de equipamento e armamento e atividades de entretenimento.

Prevenir ou reduzir conflitos e ameaças. Esta é uma das peças chave da estratégia. As medidas de prevenção são enfocadas em: reduzir ou eliminar as potencialidades ou capacidades nuclear-biológico-químicas (NBC); prevenir e dissuadir o terrorismo e reduzir a vulnerabilidade dos Estados Unidos mediante o incremento na gama de atividades de inteligência; proteger a infra-estrutura decisiva e o pessoal do DoD; dissuadir a produção e afluência de drogas ilegais nos Estados Unidos e seus espaços circundantes; reduzir as condições estimuladoras de conflitos.

Dissuadir agressões mediante o emprego das forças norte-americanas de paz em regiões chave e mediante a demonstração explícita de seu poderio e capacidade para garantir a segurança de seus interesses e a vontade para fazê-los valer, onde e quando sejam desafiados.

Ou seja, haveria dois mecanismos para cumprir a alta missão atribuída ao DoD e que se estende a um território definido não pelas fronteiras, mas pelos interesses nacionais dos Estados Unidos: a aceitação universal desses interesses acima dos das outras nações e a inibição ou desativação prematura de qualquer indício de dissidência ou, o que dá na mesma, de autonomia de decisão do resto das nações ou povos do mundo.

2. Ter a preparação e presteza necessárias para responder ao amplo espectro de crise que ameaça os interesses dos Estados Unidos

Apesar dos avanços na construção de um ambiente favorável, o mundo continua sendo complexo, dinâmico e perigoso na perspectiva do próprio DoD, que identifica as seguintes tendências como ameaças a sua segurança:

- Conflitos transfronteiriços de larga escala (notoriamente, Iraque-Irã e as Coréias).

- Fracasso ou desaparecimento de alguns estados, previsto daqui ao ano 2015 (notoriamente, Iugoslávia, Albânia e Zaire).

- Perigos transnacionais: violentas organizações terroristas de motivação religiosa que eclipsaram as mais tradicionais, de motivação política e organizações terroristas com motivações étnicas ou nacionalistas. Complexização e sofisticação dos movimentos sociais identificados como terroristas ou de ameaça ao sistema. Tráfico de drogas e de armamento, que tendem a desgastar a legitimidade de governos amigos. Desastres ambientais. E, curiosamente localizados como perigo transnacional, "incontrolados fluxos de migrantes".

- Afluência de tecnologias potencialmente perigosas. O vínculo entre conhecimento letal e movimentos terroristas dedicados a catástrofes massivas representa um novo paradigma para a segurança nacional. Os conhecimentos letais enunciados são de três tipos, todos relacionados com os espaços estratégicos de controle tecnológico: os que concernem à fabricação e proliferação de armas nucleares, biológicas ou químicas (NBC); os que concernem à fabricação de veículos aéreos e meios para controlar o espaço e os que concernem à capacidade para gerar, utilizar ou inutilizar informação que possa ser empregada com fins de controle ou desestabilização.

- Há outros riscos relacionados com situações imprevisíveis (wild card scenarios), como a emergência de imprevistas ameaças tecnológicas; a perda de acesso às facilidades decisórias e às linhas de comunicação em regiões chave; a chegada de partidos hostis em países amigos. "A capacidade militar dos Estados Unidos deve ser suficientemente flexível para fazer frente a estes eventos inesperados."

3. Ter a previsão necessária para estar preparados diante da incerteza do futuro próximo

Esta iniciativa compõe-se de quatro partes principais:

- modernização tecnológica que incorpore inovações de fronteira;
- revolução nos assuntos militares desenvolvendo as habilidades militares. "...as revoluções tecnológicas afetaram a natureza do conflito". Por isso, propõe-se
- guarnecer-se mediante novas tecnologias que ofereçam às forças norte-americanas maior capacidade através de conceitos, doutrina e organizações avançados, que lhes permitam dominar qualquer campo futuro de batalha, incluindo os assiméticos." É preciso fortalecer "tanto a cultura quanto a capacidade ou aptidões." (Cohen:1988. Sublinhados meus)
- revolução na engenharia de infra-estrutura e apoio;
- proteger-se de futuras ameaças para ser capazes de manejar os riscos em um ambiente de recursos restritos. Para isso, é necessário manter um amplo esforço em pesquisa e desenvolvimento; vincular-se com indústrias especializadas em novas tecnologias e desenvolver programas de R & D que possibilitem a adoção ou adaptação das tecnologias comerciais às necessidades militares. Uma iniciativa de grande amplitude contra as ameaças futuras requer garantir que as forças norte-americanas tenham a capacidade de inteligência necessária.

O eixo tecnológico na estratégia de liderança mundial para o século XXI

O enorme acúmulo de conhecimentos concentrados e vertidos na criação de uma ampla e pormenorizada estrutura de automatização e apropriação da natureza tornou complexa a organização social em todas as suas dimensões, incluída, é claro, a militar. Por isso, e considerando a mudança no cenário mundial e a conseqüente "revolução nas questões militares" contemplada no ODR (Cohen:1998), a inovação tecnológica e a possibilidade de colocar-se na fronteira do conhecimento nos campos fundamentais adquirem a maior prioridade.

O fim da guerra fria, as escalas planetárias do processo de reprodução, dominação e concorrência e a variedade de cenários e universos culturais que compõem a totalidade mundial outorga às atividades de inteligência e prevenção (ou repressão antecipada) de conflitos uma enorme importância: "A inteligência representa a primeira linha de defesa" (Deutch:1994).

Isto não elimina a necessidade de estabelecer uma superioridade na qualidade dos armamentos e nos mecanismos correspondentes à guerra convencional, e sim multiplica os terrenos de busca tecnológica e outorga à centralização e processamento de informação um lugar estratégico. No dizer de Foucault, "o poder não tem necessidade de ciência, mas de uma massa de informações que, por sua posição estratégica, ele é capaz de explorar."(1977, p. 121)

Para isso, dentro dos que são considerados os possibilitadores decisivos desta linha estratégica encontram-se:
- um sistema de inteligência com alcance global;
- comunicações globalizadas e impedimento de interferência por parte do inimigo. Controle dos mares e espaço aéreo;
- superioridade em espaço. Reconhecimento, vigilância, inteligência, computadores, comunicações, controle e direção globais (command, control, comunications, computers, intelligence, surveillance and reconnaissance, C4ISR). Para manter a vantagem atual no espaço, mesmo quando mais usuários desenvolvam suas capacidades, os Estados Unidos devem dedicar suficientes recursos de inteligência para monitorar os usuários externos de ativos assentados espacialmente.

"Para ser realmente uma força de amplo espectro, os militares norte-americanos devem ser capazes de derrotar inclusive os adversários mais inovadores. Aqueles que se opõem aos Estados Unidos utilizarão de modo crescente estratégias e táticas não-convencionais para compensar a superioridade dos Estados Unidos."(Deutch:1994)

A tecnologia, no costume capitalista, é sem dúvida a maneira de estabelecer espaços privados de controle e vantagens que gerem condições para a construção e o exercício do poder. Este poder se constrói e se manifesta, como assinalou-se no início, nas quatro dimensões principais da organização e reprodução da sociedade mundial e, por isso, em todas elas é possível identificar uma infra-estrutura tecnológica que serve como eixo de articulação e, evidentemente, de dominação.

Para efeito de argumentar a coerência e colaboração entre as duas figuras de representação do sujeito hegemônico que mencionamos no início, é possível identificar alguns mecanismos de alta prioridade, tanto para as agências de segurança dos Estados Unidos como para a alta burguesia transnacional norte-americana.

Uso dual da tecnologia militar e civil. As pesquisas realizadas pela agência de pesquisa e desenvolvimento do DoD, ARPA, foram a base da graficação por computador; do tempo compartilhado; dos pacotes com interruptores que mais tarde deram lugar à Arpanet, de onde derivou a Internet; da inteligência artificial, que compreende o reconhecimento de voz, os sistemas especialistas e a visão digital, e da engenharia informática. Os esforços tecnológicos da ARPA vão desde pesquisa básica até aplicações avançadas e testbeds.

Já em 1994 a ARPA estabeleceu vários projetos experimentais de redes gigabit/segundo para explorar em arquitetura, manejo e segurança de redes e, atualmente, as linhas dorsais que dão suporte à rede Abilene nos Estados Unidos, instaladas pela MCI, têm uma velocidade de 8 gigabits por segundo, enquanto a melhor rede alemã, que é a que a segue, tem uma velocidade de 2 gigabits por segundo. A diferença qualitativa é abismal e estabelece uma brecha que tem repercussões em todas as atividades relacionadas com essas redes (Ornelas:2000).

Mesmo assim, o desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação constituiu um componente essencial da plataforma de decolagem da produção mundial pós-fordista, ou seja, dos processos de trabalho off shore (maquilas no norte do México, o Sudeste Asiático e, mais tarde, o Caribe e a América Central) e das redes de produção altamente automatizadas e espacialmente desmembradas que conhecemos hoje.

"Muitos elementos de computação com modem têm suas origens nas pesquisas auspiciadas pelo DoD e a infra-estrutura de pesquisa criada por ele continua produzindo tecnologia necessária para o NII. A contribuição do DoD aos primeiros supercomputadores foi uma contribuição à massiva introdução de sistemas de funcionamento em paralelo no final dos anos 60 e continua apoiando o desenvolvimento da tecnologia computacional de fronteira com o programa de alto rendimento em computação e comunicações. (Deutch:1994)

A vinculação estreita entre a indústria civil e militar está presente em todos os campos importantes de desenvolvimento tecnológico, mas destacam-se entre eles, na atualidade, os seguintes:

- Criação de redes tecnológicas avançadas em coordenação com a indústria e as universidades, baseando-se no conceito de trama global (global grid) e para os fins militares e civis dos Estados Unidos.

- Alto rendimento em computação, criando sistemas capazes de realizar 100 bilhões de operações por segundo e, posteriormente, trilhões de operações por segundo.

- Tecnologia para sistemas inteligentes. Incluem deciframento (ou compreensão) de imagens, de linguagem humana e integração inteligente de informação cujos propósitos são desenvolver tecnologia de visão artificial para aplicações como a inspeção de sistemas de produção, permitir a interação direta e natural das forças militares com sistemas complexos com base na pesquisa lingüística e conseguir a integração e processamento de informação heterogênea e de fontes díspares pra apresentá-la aos usuários organizada de acordo com sua relevância.

- Melhoramento da tecnologia informática reduzindo o tempo de criação, incrementando a confiabilidade e melhorando sua manutenção.

- Eletrônica avançada. Substancial melhoria no equipamento (hardware) para a NII. As áreas de pesquisa compreendem supercondutores de alta temperatura, materiais de alto rendimento como o arseniuro de gálio e módulos multichip (MCMs) que permitem a integração de um sistema completo em um só módulo sem componentes separados. Com os MCMs os sistemas eletrônicos alcançam altos rendimentos, muito maior confiabilidade, menor consumo energético e menores custos de produção, permitem novos níveis de rendimento e miniaturização em equipamento de cálculo e comunicação.

- Deciframento do genoma humano

Criação de uma normatividade universal, tanto no terreno da guerra através de organismos como a OTAN e a ONU e da gestão econômica global mediante a implantação de critérios determinados supranacionalmente pelo Fundo Monetário Internacional ou o Banco Mundial, entre outros, como no da produção através do estabelecimento de equivalentes ou referentes gerais tecnológicos que marcam as pautas da produção, a organização produtiva e a concorrência.

O DoD apóia a criação de normas internacionais para os serviços integrados de informação em amplitude de faixa e é pioneiro em pesquisa, desenvolvimento e avaliação de criptografia, de verificação de tecnologia de computação e de serviços e produtos seguros de informação. Foi o encarregado de promover um protocolo único para as comunicações internacionais (TCP/IP) e, portanto, garantiu com isso sua supremacia sobre o sistema de comunicações global.

Estas normas são fixadas de acordo com os critérios estratégicos de segurança, mas também com as condições e possibilidades de suas indústrias de engenharia de informação, de engenharia nuclear, etc. Desta forma mantém-se uma liderança imposta simultaneamente pelas razões da economia e da "persuasão militar".

O DOD é líder no uso global da tecnologia de informação. "Apenas as corporações verdadeiramente grandes têm sistemas internacionais de comunicação que se aproximam aos do DoD em tamanho e amplitude, e apenas as mais avançadas destas se aproximam da heterogeneidade, complexidade e diversidade de vínculos integrados que tem o sistema de comunicações do DoD". (Deutch:1994)

No caso destes sistemas tecnológicos, é tão importante a escala de utilização como a produção, já que sua inovação e as facilidades que outorga ao resto dos setores se multiplicam com a intensidade e amplitude de sua utilização.

A amplitude de alcance destes sistemas é base, também, da articulação de interesses em torno do controle de recursos estratégicos que são de utilidade múltipla mas essencial, como o petróleo, a biodiversidade ou o urânio. "Na América Latina houve (...) uma intensa atividade de teleprospecção coordenada pelas transnacionais petroleiras (Gulf, Exxon), os grandes fabricantes de geradores, turbinas e centrais elétricas nucleares (General Electric, Westinghouse) e – é claro -, os gigantes da indústria aeroespacial e de telecomunicações (Litton, Hughes, Aircraft) em busca de jazidas de petróleo, urânio e cobre na Amazônia (Brasil e Peru),Venezuela e Chile". (Rosaslanda:1998, p. 75). Litton e Hughes são empresas que funcionam sob o auspício quase total do DoD.

Conclusão

O estudo da concorrência econômica e do processo de concentração de capital é por si mesmo incapaz de dar conta da complexidade do processo de dominação e da construção da hegemonia mundial, apesar de sua essencialidade. A dominação econômica não pode se desinteressar da violência que lhe é imanente e que se evidencia na dimensão militar de organização do poder.

O sujeito hegemônico, sujeito desdobrado que desdobra sua estratégia de poder em todas as suas dimensões de representação, somente pode ser apreendido em sua integridade, que é também o assentamento de suas condições de possibilidade. E é neste horizonte de aproximação que se evidenciam os complexos e variados mecanismos de construção do poder hegemônico, mas também é ele que permite vislumbrar suas condições de vulnerabilidade e suas fronteiras consubstanciais ou limites civilizatórios. Por fim, "as forças presentes da história não obedecem nem a um destino nem a uma mecânica, e sim ao acaso da luta". (Foucault:1977, p. 20)

* Cientista social da revista Chiapas e representante do Instituto de Investigaciones Econômicas (UNAM) do México
Bibliografía citada:
- Belligni, Silvano (1987), "hegemonía". In: Norberto Bobbio y Nicola Matteucci, Diccionario de política, Ed. Siglo XXI, México.
- Caputo, Orlando (1999), "La economía mundial actual y la ciencia económica. Algunas reflexiones para la discusión". In: Jaime Estay, Alicia Girón y Osvaldo Martínez (Coords), La globalización de la economía mundial. Principales dimensiones en el umbral del siglo XXI, BUAP-IIEc-CIEM-Porrúa, México.
- Ceceña, Ana Esther (1998) (Coord), La tecnología como instrumento de poder, Ed. El Caballito, México.
- Ceceña, Ana Esther y Andrés Barreda (1995) (coord.), Producción estratégica y hegemonía mundial, Siglo XXI, México, 541 pp.
- Cohen, William (1998), Annual report to the President and the Congress. National security strategy for a new century, U. S. Department of Defense, Estados Unidos.
- Charnay, Jean-Paul (1990), Critique de la stratégie, L’Herne, París, 325 pp.
- Deutch, John (1994), DoD and the national information infrastructure, The Department of Defense
- Foucault, M. 1977. La microfísica del poder, colección Genealogía del poder 3ª ed., Las ediciones de La Piqueta, Madrid, 1992, 189 pp.
- Gramsci, Antonio (19xx), Notas sobre Maquiavelo, Ed. Juan Pablos, México.
- Joxe, Alain (1997), La science de la guerre et la paix, projet non publiable.
- Martínez Peinado, Javier (1999), "Globalización: elementos para el debate". In: Jaime Estay, Alicia Girón y Osvaldo Martínez (Coords), La globalización de la economía mundial. Principales dimensiones en el umbral del siglo XXI, BUAP-IIEc-CIEM-Porrúa, México.
Marx, Karl (1972), Elementos fundamentales para la crítica de la economía política 1857-1858 (Grundrisse), t. II, Siglo XXI, México.
Ornelas Bernal, Raúl (2000), Les entreprises transnationales et la domination économique. La concurrence au sein du noyau technologique, Tesis de doctorado (inédita), Université de Paris X.
Rosaslanda, Octavio (1998), INTERNET: impulsor del desarrollo capitalista contemporáneo, Tesis, Facultad de Economía, UNAM, México.
Soros, George (1999), La crisis del capitalismo global. La sociedad abierta en peligro, Plaza y Janés, México.
‘O FUTURO É DESCARTÁVEL

e plástico

e portátil’
Aquele que sempre ajuda só precisa na hora errada. 11041997
“você gosta
eu não
te conheço e devo gostar”
ISMAR: DESENHO DE SOM

CENA 01 PROGRAMA JÔ SOARES ONZE E MEIA
SOM

CENA 02 INT. - QUARTO DE ISMAR – NOITE

RUA À NOITE + SALA

televisão

controle remoto

chuvisco

isqueiro

assopra

desliga a televisão com o controle remoto
CENA 03 INT. - ÚTERO DA MÃE - DIA


ESTOMAGO RONCANDO + CORRENTE SANGUINEA
CENA 04 INT. - SALA DE PARTO – DIA


choro

instrumentos cirúrgicos
CENA 05 INT. – RESTAURANTE DO CLUBE MILITAR - DIA


MARCHA MILITAR (MUSICA)

restaurante

cheio

pessoas

SILENCIO + MOTOR DE CARRO + TIC-TAC
CENA 06 INT. – SALA DE AULA – DIA – RODADO COMO FILME MUDO

TRILHA RETIRADA D’O GAROTO’, DE CHAPLIN
CENA 07 PROGRAMA O SONHO É O LIMITE

CENA 08 INT. – SALA DE CINEMA - NOITE


PROJETOR

pessoas choram

A música anuncia o fim do filme.

aplaudir

aplausos
CENA 09 PROGRAMA O SONHO É O LIMITE

CENA 10 INT. – QUARTO DE ISMAR – NOITE – ANIMAÇÃO


DEPENDE DA ANIMAÇÃO:
CENA 11 EXT. – RUA – NOITE - ANIMAÇÃO


SIRENE +

Uma ambulância corre apressada.

trânsito
CENA 12 INT. – QUARTO DO HOSPITAL – NOITE - ANIMAÇÃO


"Ismar sente o efeito."

ALGUM EFEITO SONORO
CENA 13 EXPERIMENTOS DE MANIPULAÇÃO DE IMAGEM


PÓSPRODUÇÃO
CENA 14 INT. – PÁTIO DO COLÉGIO SANTO AGOSTINHO - DIA


Crianças brincam e correm. +

MUSICA (A NIGHT IN TUNISIA- BIRD)
CENA 15 INT. – BLACK – NOITE

CENA 16 INT. – SALA DE CINEMA - NOITE

CENA 17 EXT. – RUAS ALEATÓRIAS - DIA


POS-PRODUÇÃO

Ouve-se seu nome

CORTA

Ouve-se seu nome
CENA 18 INT. – QUARTO DE ISMAR - DIA


SOM ADVINDO DA TV
CENA 19 EXT. – RUAS ALEATÓRIAS - DIA


MUSICA
CENA 20 INT. – QUARTO DE ISMAR - DIA


se emociona ao ver as imagens
CENA 21 EXT. – PONTO DE ÔNIBUS - DIA

CENA 22 INT. – ÔNIBUS - DIA


SILENCIO +

O ônibus para

rua
CENA 23 EXT. – RUA - DIA

CENA 24 INT. – SALA DE JANTAR - NOITE


MUSICA INSTRUMENTAL NATALINA

FX QD CABEÇAS E SOMBRAS SE MOVEM

SEM FX, SÓ O JANTAR

pega um caderno, folheia, arranca uma das páginas.

FX VOLTAM

SÓ A MUSICA NATALINA



pessoas saem da mesa, levando suas sombras.
CENA 25 INT. – SALA BRANCA - DIA


Ouvem-se dizeres religiosos em ‘outros dialetos?’.
CENA 26 INT. – PÁTIO DO COLÉGIO SANTO AGOSTINHO - DIA


(CALABOUÇO): PASSOS, CORRENTES, METAIS

biblioteca.
CENA 27 INT. – SALA DE JANTAR – NOITE – RODADO A 90 QUADROS

imparcialidade
CENA 29 EXT. – BAR – NOITE

CENA 30 INT. – BAR – NOITE – RODADO A 90 QUADROS


Ismar bebe com alguns amigos.
CENA 31 INT. – SHOW – NOITE – RODADO A 90 QUADROS


músicas.

PARTES DE MUSICAS SE SOBREPOEM
CENA 32 INSERT. DE FOTOS DA VIDA DE ISMAR TIRELLI NETO


COMPOR AS FOTOS
CENA 33 EXT. – FACHADAS DE PRÉDIOS - NOITE


BERROS CAÓTICA. (OU SÓ A NOITE)
CENA 34 EXT. – CIDADE DO RIO DE JANEIRO - NOITE


CONT. DA ANTERIOR. OU SEU OPOSTO.
CENA 35 EXT. – FACHADA PRÉDIO DE ISMAR - NOITE

CENA 36 INT. – REI DO MATE - DIA


ESPAÇO REAL SAÍDO DA MENTE DE ISMAR.
CENA 37 EXT. – RUA NO CENTRO - DIA


CONTINUAÇÃO DA CENA 36
CENA 38 EXT. – FACULDADE UFRJ - DIA

CENA 39 INT. – FACULDADE UFRJ - DIA

CENA 40 INT. – FACULDADE UFRJ - DIA


VOZES
CENA 41 INT. – SEBO DE LIVROS - DIA


OUTRAS VOZES
CENA 42 EXT. – CAFÉ – DIA

CENA 43 INT. – QUARTO DE ISMAR - NOITE


“O ano passado em Marienbad”
CENA 44 INT. CASA DE AMIGOS - NOITE


festa de aniversário.
CENA 45 INT. – SALA DE CINEMA - NOITE

CENA 46 PROGRAMA JÔ SOARES ONZE E MEIA

CRÉDITOS
CRÉDITOS
Por uma política econômica voltada para um projeto nacional de desenvolvimento,com prioridade para a geração de empregos e a redução das desigualdades sociais

Em junho de 2003, um grupo de mais de 300 economistas brasileiros divulgou um manifesto no qual advertia para o agravamento da crise social em face do aprofundamento, pelo Governo Lula, da política macroeconômica herdada do governo anterior. Apontamos como alternativa, fruto de um consenso mínimo, um programa de sete pontos que configurava um compromisso com a adoção de uma política de promoção do pleno emprego, num contexto de retomada do desenvolvimento e de realização da democracia social.
Passado mais de um ano, um grupo inicial de cerca de trinta economistas, signatários ou aderentes daquele Manifesto, reuniu-se novamente para fazer uma avaliação da conjuntura econômica à vista de nossas proposições anteriores e das perspectivas que se apresentam à sociedade brasileira. Nossa conclusão, enriquecida por sugestões de outros economistas que assinam o presente documento, é que a situação social se agravou de uma forma inequívoca, e que o ligeiro suspiro de crescimento que se tem verificado este ano não muda o caráter excludente e pauperizador da política econômica. Ou seja, continuamos no rumo errado, mas há alternativa.
A adoção pelo Governo Lula da mesma política econômica adotada no segundo mandato do Governo FHC - e com o objetivo de manter o modelo de economia inaugurado por Collor - demonstra que o desejo de mudança, expresso claramente pelo povo nas eleições de 2002, foi usurpado pelo mesmo poder econômico, que quer manter a todo custo seus privilégios.É nossa convicção que, a despeito do aprofundamento da crise social, não há sinais de reversão da atual política econômica. Ao contrário, o governo tem reafirmado que não quer mudar. Portanto, é nosso dever de cidadania insistir na denúncia de que esta política econômica não atende aos interesses da maioria e que aumentará cada vez mais os problemas sociais. A suposta estabilização macroeconômica, apoiada em políticas monetária e fiscal restritivas, ocorre em detrimento da estabilidade social. As taxas de desemprego e de subemprego nas principais regiões metropolitanas se elevam a um quarto da população ativa, o que configura, de longe, a maior crise social de nossa história, levando a uma escalada da marginalização social, da criminalidade e da insegurança.
O surto do modesto crescimento econômico deste ano não deve iludir a ninguém:1) A base de comparação utilizada é com o ano de 2003, quando houve queda do produto.2) O crescimento observado concentra-se nas áreas de exportação e de bens de consumo duráveis, enquanto os setores produtores de bens não duráveis, onde se concentra o consumo das massas, apresenta um comportamento distinto, com alguns de seus segmentos estagnados ou mesmo em queda.3) O crescimento apurado efetivamente é ainda muito baixo para ter qualquer efeito relevante sobre a geração de emprego.4) A renda do trabalho cai pelo quinto ano consecutivo.5) Esse crescimento não reduz a vulnerabilidade externa do país que, ao contrário, tende a agravar-se diante do elevado nível de endividamento externo, baixas reservas internacionais, crescente desnacionalização (inclusive, da infra-estrutura) e regressão do sistema nacional de inovações.
A política econômica do governo coloca a sociedade brasileira em uma armadilha de tal forma que qualquer ameaça ou chantagem, externa ou interna, é enfrentada com medidas monetárias e fiscais restritivas que agravam a crise social. Além de travar a economia, o superávit primário -agora elevado para 4,5% do PIB - e os juros básicos de agiotagem - elevados novamente para, agora, 17,25% a.a. - são uma verdadeira máquina de transferência de renda de pobres para ricos, na medida em que implicam a tributação indireta dos pobres, e o aumento da tributação direta da classe média, para o pagamento dos juros da dívida pública aos ricos.
A sociedade brasileira deve ser conscientizada de que a atual política econômica não é capaz de nos tirar desta crise e, na verdade, tende a agravá-la, recorrentemente. E a sociedade brasileira deve ser igualmente conscientizada de que há alternativa. É com esse duplo propósito que estamos divulgando este novo Manifesto.Os eixos estruturantes da retomada de um projeto nacional de desenvolvimento são a redução da vulnerabilidade externa e a promoção do pleno emprego. Nesse sentido, propõem-se as seguintes medidas imediatas:
1. Reduzir drasticamente a atual taxa de juro básica (Selic), que serve para remunerar os títulos públicos; portanto, a taxa de juro passa a ser focada no ajuste das contas públicas;2. Desvincular a taxa de redesconto (que remunera os empréstimos do Banco Central aos bancos) da taxa Selic, liberando o BC para a utilização ativa das taxas de redesconto, depósitos compulsórios e cobrança de IOF como formas de regulação seletiva do crédito;3. Estabelecer mecanismos de controle no fluxo de entrada e saída de capitais externos do país, controlando a conta de capitais, com o objetivo de impedir a evasão externa de divisas, em face da queda da taxa de juros;4. Interromper a captação de recursos externos pelo setor público, recompor de forma contínua as reservas internacionais do país e estabelecer critérios para o processo de endividamento externo privado;5. Promover a redução do "spread" e dos custos dos serviços dos bancos privados por meio da rivalidade agressiva derivada da oferta de crédito e de serviços financeiros pelos bancos públicos;6. Realizar uma reforma fiscal que priorize os investimentos na economia interna e nos programas sociais e inclua um sistema progressivo de tributação, capaz de acelerar a distribuição da renda e, em conseqüência, o crescimento sustentado da economia e das oportunidades de trabalho;7. Realizar uma auditoria financeira e social da dívida externa, para dar transparência e justiça ao processo de endividamento e para tornar efetivo o controle democrático;8. Administrar a política cambial de maneira favorável às exportações e à substituição das importações, e compatível com o equilíbrio dos fluxos de capitais externos;9. Reverter o processo de desnacionalização dos setores de produtos não comercializáveis internacionalmente, de modo a reduzir a rigidez das contas externas do país (o que implica cancelar o programa Parceria Público Privado); 10. Utilizar os recursos públicos, ora esterilizados no superávit primário, em programas de dispêndio público voltados para a expansão e melhora dos serviços públicos básicos, como educação, saúde, habitação popular, assim como para investimentos de infra-estrutura e apoio decisivo à agricultura familiar, reforma agrária e economia solidária.
Este é um programa que busca ir às raízes de nossa crise para encontrar os elementos de superá-la. Na verdade, não estamos propondo, com este programa, nada de extraordinário no campo político. Com a mudança das políticas fiscal e monetária pretende-se aumentar de forma sustentada o investimento e a geração de emprego. A lógica de nossas propostas se baseia na defesa da prioridade em políticas que representem a distribuição de renda e riqueza, e soluções democráticas para os graves problemas que a imensa maioria de nosso povo enfrenta.Do ponto de vista político, é importantíssimo que o povo brasileiro tenha assegurado os direitos garantidos pela Constituição, de decidir por plebiscito e/ou consulta popular todos os temas que afetam a toda sociedade, como os acordos internacionais da ALCA, OMC, Mercosul-UEE, transgênicos, entre outros. Por isso nos somamos à iniciativa da OAB, CNBB e MST de iniciar uma campanha pela regulamentação do direito ao exercício do plebiscito pelo povo, de onde todo poder emana.Queremos que cada cidadão brasileiro tenha a perspectiva de encontrar trabalho remunerado, acesso democrático a todos os níveis de escolarização e com a devida proteção de saúde. É um direito básico, republicano, de cidadania. Não nos conformamos com o fato de que, para milhares de jovens em nossas periferias metropolitanas, a perspectiva mais atraente de sobrevivência seja o aliciamento pelo tráfico de drogas. Não aceitamos que o problema da segurança em nossas cidades seja insolúvel. Não aceitamos a permanente transferência de renda para o setor financeiro e para os rentistas. Não queremos mais que os rumos do país sejam determinados por uma conjuntura internacional volátil, seja no sistema financeiro, seja no sistema mundial de comércio. Estamos convencidos de que, por meio de uma nova economia, será possível estruturar uma nova ordem social e estabelecer uma trajetória de desenvolvimento.A política econômica atual é coerente com a manutenção dos privilégios da camada mais rica da população, dos setores financeiros e daqueles voltados para a exportação. A nossa proposta de política econômica é diferente. Ela se insere em um Projeto Nacional de Desenvolvimento voltado para a garantia dos interesses dos que dependem do seu trabalho, da imensa maioria do povo brasileiro.
O povo brasileiro, mais de uma vez, deu demonstrações, em nossa história política, de sua capacidade de mobilização e de luta por mudanças, para atender os interesses nacionais, democráticos e populares. Esperamos que o povo se conscientize da necessidade de se mobilizar, mais uma vez, para lutar contra as políticas neoliberais e pela construção de uma ordem social mais justa.
A política é o instrumento adequado para a transformação econômica e social. E é fundamental para o progresso democrático que haja ampla circulação de idéias e que a imprensa cumpra o seu papel de informar, sem cair na tentação totalitária do pensamento único. De nossa parte, continuaremos a exercer o nosso dever de criticar e de propor alternativas.
Em 22 de novembro de 2004.