Materializadas em bits toxinas neurais trazidas pelos ventos daquilo que simplesmente é. Isto é nada se não for para o Todo.
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
PAULO AUTRAN - O maior de todos
Quem vai ocupar o espaço deixado por Paulo Autran? Não se trata de substituir o título de maior ator brasileiro, já que há inegavelmente no Brasil grandes atores de várias gerações que podem chegar no nível de excelência de Autran. O complicado - para não dizer impossível - será exercer o ofício de atuar com a mesma singularidade com que fez Paulo Autran. Porque quando se perde um artista como ele o que fica vago é uma maneira de encarar a profissão de ator, um jeito único de direcionar uma trajetória.
Paulo Autran era nosso Laurence Olivier, como disse João Falcão no dia de sua morte. Ou como contestou nossa especialista em teatro, Soraya Belusi, Olivier era o Autran dos ingleses. O fato é que ele era o maior de todos, desde há muito, mas nunca se acomodou ou mesmo aceitou o rótulo. Na última entrevista que fiz com ele - foram várias ao longo da minha carreira, graças a Deus - me disse que nunca se sentiu um "monstro sagrado". Era simplesmente um ator apaixonado pelo que fazia e só se sentia especial porque todos lhe tratavam com muito carinho.
Era esse amor à arte de atuar que o fazia rejeitar o título do maior ator brasileiro. Se o aceitasse, não teria tido a liberdade de escolher montar um autor estreante, como fez com Mário Viana ("Vestir o Pai") e Dib Carneiro ("Adivinhe quem Vem para Rezar"); ou contracenar com atores desconhecidos ou em início de carreira, como é caso de Cláudio Fontana e Cássio Scapin; ou ainda ser dirigido por encenadores com metade de sua experiência, como aconteceu com Paulo de Moraes e Eduardo Tolentino.
Ator, diretor e produtor, Paulo Autran tinha no teatro a sua casa. Foi nos palcos que apresentou sua capacidade de se transformar. Tanto fazia se em clássicos, como Shakespeare e Ibsen, e grandes dramaturgos, como João Cabral de Mello Neto, Tennessee Williams e Pirandello, como em peças de autores iniciantes, Autran estava sempre em busca de um bom texto.
Mas se o teatro tinha a primazia em sua carreira, o cinema e a TV tiveram o privilégio de ter Paulo Autran em poucas, mas primorosas aparições. Não é possível conceber "Terra em Transe" sem ele. E mais recentemente, "A Máquina" não teria o mesmo charme se não fosse Autran a conduzir a história. Na TV, em sua primeira participação em novelas, mostrou que estava ali para se divertir ao protagonizar a mais clássica das cenas: a briga com tortas, geléias e chantilly, com Fernanda Montenegro, em "Guerra dos Sexos".
Paulo Autran viveu 85 anos com muita intensidade. Na última vez que o encontrei, nos bastidores da peça "Adivinhe quem Vem para Rezar", há dois anos, me pareceu frágil, bem diferente do homem bem disposto e vigoroso que entrevistei pela primeira vez 14 anos antes. "A pessoa pensa ter mais energia do que na verdade tem", disse, ao revelar que estava tentando diminuir os compromissos. Não dei importância às palavras e à fragilidade de Autran, já que, ao subir ao palco para interpretar três diferentes personagens, lá estava ele cheio de energia e talento. Depois daquilo, montou "O Avarento" e participou das filmagens de "O Passado", filme ainda inédito de Hector Babenco.
Achei que ele fosse viver para sempre.
SILVANA MASCAGNA escreve no Magazine às quartas-feiras. mascagna@otempo.com.br
O Tempo
Publicado em: 16/10/2007
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Paulo Autran morreu por causa do cigarro, diz viúva
Ator morreu nesta sexta (12/10/07), aos 85 anos, em São Paulo.
O ator Paulo Autran, que morreu nesta sexta-feira aos 85 anos, era usado como exemplo de que era possível uma pessoa fumar e viver muitos anos. Mas, segundo sua viúva, a atriz Karin Rodrigues, o marido "queria que todos soubessem que ele morreu por causa do cigarro".
Paulo Autran morreu por causa do cigarro
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BLOG DO ZANIN
12.10.07
Paulo Autran
por Luiz Zanin, Seção: Personagens s 20:13:43.
Quando morre o maior ator do país, o que dizer? Apenas isso: vejam-no em seu
grande papel no cinema, o político Porfírio Diaz, em Terra em Transe,
obra-prima de Glauber Rocha. Há um momento sublime (e terrível, porque as
coisas vêm juntas) quando Autran se dirige à câmera (quer dizer, ao
espectador) e brada:
"Aprenderão! Aprenderão!
Dominarei essa terra!
Botarei as nossas históricas tradições em ordem!
Pela força!
Pelo amor da força!
Pela harmonia universal dos infernos,
Chegaremos a uma civilização!"
Esse foi o ápice, mas Paulo Autran contabiliza 21 papéis no cinema. Os
últimos - o avô do protagonista de O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias,
de Cao Hambúrguer, e um intelectual francês em O Passado, de Hector Babenco,
ainda inédito.
Isso sem falar na TV e no teatro, onde fez de Molière a Shakespeare, sem
deixar de encenar os autores novos, como nosso amigo Dib Carneiro Neto, de
quem protagonizou a peça Adivinhe quem Vem para Jantar.
Paulo Autran foi completo. Complexo. Grande. Só podemos ser gratos por uma
vida assim.
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