quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Chávez cria Hollywood bolivariana para promover revolução




Primeiro filme rodado no pólo cinematográfico criado pelo presidente
venezuelano narra saga de herói da independência

"Miranda Regressa" teve orçamento de US$ 2,3 mi e première de gala;
outros 19 projetos estão em produção ou acabam de ser concluídos

Howard Yanes-11.out.2007/Associated Press
A première de "Miranda Regressa", que teve Chávez e o equatoriano
Rafael Correa na platéia


FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS FSP

O slogan da Fundação Villa del Cine anuncia sem pudores: "Luzes, câmera,
revolução". Criado pelo presidente Hugo Chávez para combater "a ditadura
de Hollywood", o estúdio de cinema estatal venezuelano enfrenta neste
fim de semana a sua primeira grande batalha, com a estréia da
superprodução "Miranda Regressa".
O ambicioso longa sobre a vida do herói da independência Francisco de
Miranda (1750-1816) é a primeira das 19 produções recém-concluídas ou em
andamento da Villa del Cine a estrear em circuito comercial. Com 140
minutos de duração e orçamento de US$ 2,32 milhões, o filme foi rodado
na Venezuela, em Cuba e na República Tcheca e conta com uma pequena
participação do astro norte-americano Danny Glover, um fã declarado de
Chávez.
A maior parte parte das filmagens foi realizada na própria sede da
fundação, que mantém um complexo com dois estúdios na cidade de
Guarenas, na Grande Caracas. Trabalham ali cerca de 1.500 pessoas, quase
todas de cooperativas vizinhas, responsáveis por áreas como figurino e
carpintaria.
"A Villa preenche um espaço que ninguém ocupava", disse à Folha o
diretor de "Miranda Regressa", Luis Alberto Lamata, considerado um dos
mais importantes do país. "O cinema venezuelano tem sido feito por nós,
cineastas, em alguns casos com o apoio de outras instituições do Estado
ou com o dinheiro que se conseguir. A Villa possibilita que se faça um
trabalho por encargo."
Mesmo antes de sua estréia nas telas, a Villa, inaugurada no ano
passado, tem atraído várias personalidades interessadas na experiência
chavista. Já visitaram os estúdios os atores hollywoodianos Kevin Spacey
e Sean Penn, além de Glover, que planeja desenvolver ali um
controvertido projeto de US$ 18 milhões -prometidos a ele por Chávez-
para filmar a história da independência haitiana.
Para a première, o local escolhido foi o Teatro da Academia Militar.
Diante de uma platéia que misturava atrizes com decotes ousados, dezenas
de cadetes uniformizados, jornalistas, entre os quais a reportagem da
Folha, e o colega equatoriano, Rafael Correa, Chávez defendeu o cinema
estatal.
"Não há revolução sem cultura se não retomamos nossos valores, se não
dizemos basta aos antivalores, ao veneno imperial. Começamos a resgatar
esses valores, usando a mina interminável de nossa história", discursou
antes da projeção, na quinta-feira à noite.
Levando em conta a pouca tradição cinematográfica venezuelana, a
qualidade técnica do filme surpreende. Mas a trama é desconexa e se
resume a mostrar, de forma laudatória, vários episódios da rica
trajetória de Miranda -ele também lutou na Revolução Francesa e na
independência americana.
"É uma cátedra de história com pouquíssima paixão, um olhar de longe e
de baixo. Miranda está no pedestal", diz Robert Gómez, editor de cultura
do jornal "El Universal". Ele aposta que o filme não cativará o público
venezuelano.
Além de "Miranda Regressa", a Villa deve terminar nos próximos meses
pelo menos outros seis longas, entre os quais "Bambi C-4", sobre o
terrorista cubano Luis Posada Carriles, que vive em liberdade nos EUA
apesar do pedido venezuelano de extradição.
Para que a empreitada nas telas tenha êxito, o governo Chávez criou
ainda a empresa distribuidora Amazonia Films e está construindo uma rede
de cinemas estatais em regiões do país onde não existem salas.

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