terça-feira, 4 de setembro de 2007

O Pássaro no Sábio



Tridandisvami Sri Srimad Bhaktivedanta Narayana Maharaja


O Pássaro no Sábio
Alemanha: 8 de Julho de 2007 – Parte Um

Quando Krsna partiu deste mundo, mais de 5000 anos atrás, todas as qualidades do mundo transcendental partiram com Ele. Todas as qualidades foram com Ele, e assim Kali-yuga entrou logo em seguida.

Naquele momento, a mente de todos- homens e mulheres, chefes de família, brahmacaris, e mesmo sadhus e sannyasis – estavam confusas. Todos praticamente começaram a se ocupar somente em gratificação dos sentidos, e atividades irreligiosas eram realizadas em todos os lugares. Ansioso pelo bem da população em geral, pensando sobre o que fazer, aproximadamente 88000 sábios liderados por Saunaka e outros, reuniram-se às margens do Rio Gomati em Naimisarya.

O discípulo de Srila Sukadeva Gosvami, Ugrasrava Suta, estava presente ali, e os sábios dirigiram-se a ele, "O Suta Gosvami, voce é o discípulo do devoto mais elevado, Srila Sukadeva Gosvami, que ouviu o Srimad-Bhagavatam do próprio Srila Vyasadeva. Você também conhece os Vedas, Upanisads, Puranas, Mahabharata e Ramayana, e especialmente o Srimad-Bhagavatam. Nossa pergunta é sobre o fato de Kali-yuga estar se aproximando."

Os sábios continuaram:

prayenalpayusah sabhya
kalav asmin yuge janah
mandah sumanda-matayo
manda-bhagya hy upadrutah

["Oh sábio, nesta era de ferro, de Kali, os homens têm suas vidas curtas. Eles são briguentos, preguiçosos, sem princípios e sem sorte, e acima de tudo disturbados." (Srimad-Bhagavatam, 1.1.10)]

A duração da vida é muito curta nesta Kali-yuga; ela não tem mais do que cem anos. Além do mais, se alguém não é auto-controlado, viverá somente por cinquenta anos.

A palavra mandah neste verso indica que a inteligência das pessoas nesta Era é muito pequena. A palavra sumanda-matayo significa que eles não são inteligentes. Identificando-se com seus corpos, eles pensam, "Meu nome me pertence, minha esposa é minha, minha saúde é minha, todas as coisas em relação ao meu corpo me pertencem. Eles não têm inteligência.

A palavra manda-bhagya significa que eles sempre se esforçam por felicidade, mas em vez disto somente surge sofrimento –sem ser convidado. Especialmente, quando a velhice se aproxima, deve-se finalmente deixar o corpo.

Ninguém irá com você após deixar o seu corpo, nem sua querida esposa, nem seus filhos, nem seus pais. Ninguém irá com você. Toda a sua prosperidade permanecerá, aqui, e você mesmo não saberá para onde estará indo.

Há muitos distúrbios e problemas, e muita rivalidade em Kali-yuga, e algumas vezes há doenças como o câncer ou tuberculose. Há sempre uma nova doença, e não se sabe quando iremos morrer.

Durante o reinado de Ramacandra, e também do reinado de Pariksit Maharaja, o status quo de uma maneira geral era de que um filho jamais morresse antes de seu pai e nenhuma esposa se tornasse viúva precocemente.Todos eram felizes.

Agora, contudo, observamos que um filho não conhece necessariamente o nome de seu pai. Também, há muitos divórcios aqui e ali. E pode ser que o recorde mundial de divórcios no Guinness Book de Recordes Mundial, seja de que as mulheres tenham se casado e posteriormente se divorciado mais do que vinte vezes. Ninguém neste mundo pode ser feliz.

Os sábios continuaram falando para Srila Suta Gosvami:

bhurini bhuri-karmani
srotavyani vibhagasah
atah sadho 'tra yat saram
samuddhrtya manisaya
bruhi bhadraya bhutanam
yenatma suprasidati

["Há muitas variedades de escrituras, e em todas elas há muitos deveres prescritos, que podem ser aprendidos somente após muitos anos de estudo em suas várias divisões. Por esta razão, oh sábio, por favor, selecione a essência de todas as escrituras e explique isto para o bem de todas as entidades vivas, que por tal instrução seus corações tornem-se satisfeitos." (Srimad-Bhagavatam 1.1.11)]

Por sua inteligência, e por ter lido todas as escrituras como os Vedas, as Upanisads, a Gita, e especialmente o Bhagavata Purana,você pode nos contar qual é a essência deles, por seguí-los nossas almas serão felizes. Nós não estamos perguntando como o nosso corpo será feliz, mas nós estamos especialmente perguntando como a alma será feliz."

Um bêbado deve pensar que ele torna-se muito feliz ao beber muitas quantidade de vinho, mas de fato ele não é feliz. Alguém que come a carne da vaca e pensa que ele é muito feliz, não é feliz. Tais pessoas são iludidas. Eles não sabem que serão afetadas por tais coisas. Assim, os sábios perguntaram, "Por favor, conte-nos a essência de todas as escrituras, por conhecê-las nossas almas serão felizes."

Suta Gosvami tornou-se muito feliz ao ouvir esta pergunta. Ele respondeu, "Sou muito afortunado, porque a pergunta de vocês inspira-me a lembrança de todos os doces passatempos de Krsna e de Suas encarnações. Eu lhes darei uma resposta, com toda certeza."

Ele então ofereceu reverências ao seu Gurudeva:

yam pravrajantam anupetam apeta-krtyam
dvaipayano viraha-katara ajuhava
putreti tan-mayataya taravo 'bhinedus
tam sarva-bhuta-hrdayam munim anato 'smi

["Srila Suta Gosvami disse: Deixe-me oferecer respeitosas reverências ao grande sábio que pode entrar no coração de todos. Quando ele foi embora para aderir à ordem de vida renunciada, deixando o lar sem ser submetido à reforma pelas linhagens sagradas ou cerimônias observadas pelas castas mais elevadas, seu pai, Vyasadeva, sentindo sua separação, chorou alto, "Oh meu filho!" Entretanto, apenas as árvores, que estavam absortas no mesmo sentimento de separação, ecoaram em resposta ao pai sofredor." (Srimad-Bhagavatam, 1.2.2)]


Srila Sukadeva Gosvami era de fato o papagaio querido de Srimati Radhika – Sriyah Suka. Sriyah significa `de Radhika'. Certa vez, Srimati Radhika estava alimentando seu papagaio com anar (romã). Ela colocou ele em sua mão e lhe disse, "O Suka, diga `Krsna, Krsna, Krsna.'" O papagaio repetiu, num muito doce e melodioso tom de voz como Srimati Radhika: "Krsna, Krsna, Krsna".

O papagaio voou para longe e foi para a casa de Krsna em Nandagaon, que estava localizada nas proximidades. Ali, Krsna estava sentado com Madhu-mangala e eles estavam falando sobre alguma coisa. O papagaio verde sentou-se no galho de uma arvore que estava completamente coberta com folhas verdes escuras e começou a falar como Srimati Radhika: "Krsna, Krsna, Krsna." Krsna perguntou, "De onde esta o som vindo? Ninguem está aqui!"

Ele então viu este belo papagaio que estava pousado na árvore. Ele muito docemente chamou o papagaio, "Venha, Venha," e de repente o papagaio pousou em Sua mão.

Krsna lhe perguntou, "O que você está dizendo sem parar de repetir?"

O papagaio disse, "Krsna, Krsna, Krsna," e adicionou, "Eu sou muito, muito desafortunado. Minha Svamini (dona) é Srimati Radhika. Ela colocou-me em sua mão e deu-me romã, e me disse para repetir `Krsna, Krsna.' Ela é muito misericordiosa. Ela me ama muito. Contudo, desafortunadamente, porque tenho a natureza de um pássaro, eu voei de lá para este lugar."

Quando Krsna ouviu isto, Ele começou a acariciar o papagaio. Ele disse, "Fale novamente."

Naquele momento, Lalita e Visakha chegaram. Elas disseram, "Oh Krsna, este papagaio pertence a Srimati Radhika. Ela não pode viver sem ele. Por favor, devolve ele para nós."

Krsna respondeu, "Vocês podem chamá-lo, e se ele for com vocês, podem pegá-lo."

Elas começaram a chamar o papagaio, mas ele não se moveu. Elas disseram a Krsna, "Se alguma entidade viva permanece com Você, ela terá sua afeição e jamais irá a qualquer lugar. Se Srimati Radhika vier e chamá-lo, somente assim ele voltará caso contrário, não.

"Sem este papagaio, minha sakhi Radhika não será capaz de permanecer viva. Ela está muito perturbada."

Krsna respondeu, "Eu não o darei a vocês. Se ele quiser ir por vontade própria, ele pode ir."

Assim, Lalita e Visakha, que eram muito inteligentes, foram até Mãe Yasoda e disseram, "o papagaio de Srimati Radhika veio para cá. Nossa sakhi está muito perturbada. Por favor, pegue-o. Dê o pássaro para nós, para que possamos devolvê-lo para Ela."

Na mesma hora, Mãe Yasoda disse, "Sente-se aqui, e espere, voltarei logo." Ela foi para o local onde Krsna estava brincando com o pássaro e disse, "Que absurdo você está fazendo: Você está sempre brincando com pássaros e animais. Venha comigo." Ela pegou e segurou a mão de Krsna e começou a levá-lo para casa. "Seu pai está sentado e lhe esperando para o banho e para a prasadam. Você deve ir agora."

Sri Krsna é o Senhor Supremo, o Senhor dos Senhores, mas em frente de Mãe Yasoda Ele é como um bebê. Ele é indefeso. Ele esquece Sua divinidade e que é Todo-poderoso.

Mãe Yasoda deu o papagaio para Lalita e Visakha e elas o devolveram para Srimati Radhika.

Quando Srimati Radhika e Krsna estavam próximos de concluir Seus passatempos na Terra, este papagaio queria ir com Eles para a morada eterna, mas Eles lhe disseram, "Depois de nós termos voltado, não haverá ninguém para contar aos habitantes da Terra sobre Krsna-bhajana. É melhor que você permaneça, aqui, e pregue o Srimad-Bhagavatam – o qual Srila Sukadeva Gosvami irá narrar para Pariksit Maharaja. Assim, por favor, fique aqui." *[Ver nota de rodapé 1]

Sriya Suka permaneceu neste mundo, mas ele sabia que sem ouvir os doces passatempos de Krsna, ele não seria capaz de ensiná-lo. Por este motivo, ele foi para Kailash, onde o Senhor Sankara estava narrando o Srimad-Bhagavatam para a sua esposa Parvati. *[Ver nota de rodapé 2] Enquanto Parvati estava ouvindo, aquele papagaio sentou-se num galho de uma árvore que estava coberto com folhas verdes bem escuras.

Parvati-devi ouviu o Primeiro Canto, mas quando o tema tratado da criação deste mundo (sarga visarga) veio à-tona no Segundo e Terceiros Cantos, ela não teve muito interesse, ela caíu no sono. Ela tinha dito, "Continue." "Muito bom, continue." E quando ela caíu no sono o papagaio começou a imitar a voz dela: "Oh sim." "Muito bom." "Continue." "Depois disto?"

Sankara pensou que Parvati estivesse ouvindo, mas quando ele completou o Décimo Canto e estava próximo de completar o Décimo-Segundo Canto, ela despertou e disse, "Oh Senhor Siva, eu estava dormindo. Eu não ouvi nada."

"Entao, quem ouviu?" ele perguntou. Olhando aqui e ali, ele viu que um papagaio estava olhando sentado no galho da árvore verde escura, dizendo, "Sim, sim, continue."

Sankara pegou seu tridente e o papagaio voou para longe. Ele seguiu o pássaro para matá-lo. Suka voou rapidamente em direção a Badarikasrama, onde Srila Vyasadeva estava narrando o mesmo hari-katha, Srimad-Bhagavatam, para sua esposa Vitika, que estava ouvindo com grande encantamento. Enquanto ela estava ouvindo os maravilhosos passatempos de Krsna erguendo a Colina de Govardhana, o papagaio entrou em seu estômago através de sua boca.

Carregando seu tridente e muito irado, Sankara chegou ali e disse para Srila Vyasadeva, "Oh Srila Vyasadeva, ofereço-lhe respeitosas reverências."

Srila Vyasadeva perguntou, "De onde você está vindo? Você está carregando seu tridente. Pelo jeito você está muito zangado."

"Oh sim. Você viu se algum papagaio veio aqui?"

"Por quê, você está procurando por um papagaio?"

"Ele ouviu o Srimad-Bhagavatam."

"Então, por que você quer matá-lo?"

"Uma pessoa não-qualificada não deve ouvir o Srimad-Bhagavatam. [Se uma pessoa não-qualificada ouve que ela é não-qualificada para ouvir, ela pode fazer uso inapropriado dele e criar um caos na sociedade. –ed] O papagaio além de não ser qualificado, ele ouviu todo o Srimad-Bhagavatam."

"Qual é o resultado de ouvir o Srimad-Bhagavatam?"

"Alguém torna-se imortal."

"Se ele é imortal, como você pode matá-lo, Sankara?"

Sankara começou a rir, e depois voltou para Kailash. O papagaio estava agora no ventre da esposa de Srila Vyasadeva, onde ele permaneceu por dezesseis anos.

Depois de dezesseis anos terem passado, Srila Vyasadeva disse, Oh prabhu, quem é você? Eu não sei quem é você. Por quê, você está ocasionando sofrimento para sua mãe? Por favor, venha para fora.

O garoto disse, "Eu não irei para fora, onde maya está presente em todo lugar."

Você sabe o significado de Maya? Ma-ya – àquilo que não existe. É observado como um fato que nós somos estes corpos, mas nós não somos. Nós pensamos que somos estes corpos; isto é maya. É maya estar atraído pelo corpo e não por Krsna, e é por causa desta maya que nós estamos sofrendo a inesgotável dor de nascimentos e mortes. Nós sabemos que nossos antepassados morreram, mas nós pensamos que não iremos morrer. Isto tudo é maya. A Criação, a Sustentação e a Destruição deste mundo, são todos maya.

Assim, Suka falou a Vyasadeva, "Eu não irei para maya."

Srila Vyasadeva respondeu, "Eu irei remover esta maya. Por favor, venha."

"Eu não acredito em você."

"Em quem voce irá acreditar?"

"Eu acreditarei em Krsna. Se ele vier e me disser para sair, eu irei, eu farei isto."

Através das orações de Vyasadeva, Krsna chegou ali e disse, "Oh meu filho, Eu sou Krsna. Eu estou removendo maya por um momento, assim, por favor, venha para fora agora."

"Eu acredito em você" Sukadeva disse.

No mesmo instante, Krsna removeu Sua maya. Ele pessoalmente enviou a energia ilusória para longe para que Sukadeva Gosvami viesse para fora do ventre de sua mãe, naquele instante Sukadeva saiu. Ele não teve samskara (ritual de purificação Védico designado para o corpo humano *[Ver nota de rodapé 3]; não cortou o cordão umbilical e nem houve yajna-upavita (receber iniciação brahmínica e o cordão sagrado).

Sri Sukadeva Gosvami correu em direção a floresta sem dar a mínima atenção a Srila Vyasadeva e a sua esposa. Ele era um brahmana e renunciado deste o nascimento.

Vyasadeva pensou, "Eu escrevi o Srimad-Bhagavatam, mas não há pessoa qualificada neste mundo para quem eu possa ensiná-lo. Desde seu nascimento, meu filho não tem nenhuma atração por qualquer coisa mundana. Ele é verdadeiramente qualificado para ouvir. Se ele ouvir, será capaz de pregar esta missão no mundo inteiro."

Ele começou a seguir seu filho, gritando, "Oh Filho! Oh Filho! Oh Filho! Venha aqui! Venha aqui! Por favor, volte!" mas somente um eco retornou da floresta, da seguinte maneira: "Quem é pai? Quem é filho? Quem é mae? Krsna é seu pai. Krsna é sua mãe. Krsna é tudo."

Enquanto Sukadeva Gosvami estava entrando na floresta, seguido por Srila Vyasadeva, haviam algumas jovens donzelas celestiais chamadas Apsaras brincando nuas num lago. Quando Sukadeva Gosvami passou por elas, elas continuaram brincando nuas no lago. Contudo, quando Srila Vyasadeva, que era muito idoso e tinha um longo cabelo branco, chegou ali, elas imediatamente correram. Rapidamente colocaram suas vestes e lhe ofereceram suas reverências de muito longe.

Srila Vyasadeva lhes perguntou, "Oh, minhas bisnetas, eu sou mais idoso do que o bisavô de vocés. Quando vocês viram meu belo e jovem filho, despido, vocês não ficaram embarassadas de maneira alguma. Mas, eu sou tão velho. Vocês são tão jovens a ponto de serem minhas bisnetas, mas quando vocês me viram, sentiram-se envergonhadas. Imediatamente vestiram-se e me ofereceram reverências. Por quê?"

As Apsaras responderam, "Seu filho não vê se alguém é um homem, uma senhora, uma árvore ou uma trepadeira. Ele vê somente a alma e a Superalma em todo lugar. Mas, você nos falou, dirigindo-se a nós como nosso bisavô, por isto nós ficamos envergonhadas diante de você."

Depois disto, Srila Vyasadeva escreveu um verso e ensinou-o a alguns caçadores. Ele lhes disse que se cantassem aquele verso, eles seriam capazes de capturar muitos pássaros na floresta. Eles foram para a floresta e recitaram o verso de Srila Vyasadeva:

barhapidam nata-vara-vapuh karnayoh karnikaram
bibhrad vasam kanaka-kapisam vaijayantim ca malam
randhran venor adhara-sudhayapurayan gopa-vrndair
vrndaranyam sva-pada-ramanam pravisad gita-kirtih

[Usando uma pena de pavão ornamentando sua cabeça, flores karnikara azuis em Suas orelhas, uma roupa amarela tão brilhante quanto o ouro, uma guirlanda vaijayanti, o Senhor Krsna exibe Sua forma transcendental como o mais habilidoso dançarino quando entra na floresta de Vrndavana, embelezando-a com a marca de seus pés de lótus. Ele preenche os orifícios de Sua flauta com o néctar de Seus lábios, e os pastorzinhos de vacas cantam Suas glórias. (Srimad-Bhagavatam, 10.21.5)]

Esta é uma belíssima descrição de Krsna encontrada no Srimad-Bhagavatam. Ouvindo isto dos caçadores, Srila Sukadeva Gosvami ficou repentinamente atraído. Ele foi até eles e perguntou, "Quem lhes ensinou isto? Por favor, peça a ele para explicar as qualidades da pessoa descrita neste verso."

No dia seguinte, os caçadores retornaram para Srila Vyasadeva, e ele lhes deu um outro verso:

aho baki yam stana-kala-kutam
jighamsayapayayad apy asadhvi
lebhe gatim dhatry-ucitam tato 'nyam
kam va dayalum saranam vrajema

["Alas, como devo tomar refúgio de alguém tão misericordioso que concedeu a posição de mãe para uma demônia, embora ela fosse infiel e tenha preparado veneno mortal para ele sugar em seus seios?" (Srimad-Bhagavatam, 3.2.23)]

A bruxa Putana foi para Vrndavana para matar Krsna, tendo colocado veneno em seu seio, mas Krsna é tão misericordioso que depois de matá-la, Ele lhe concedeu o destino de ser uma mae (Sua enfermeira). Quem pode ser tão misericordioso quanto Krsna? Quem tomará outro refúgio senão o de Krsna?

Após ouvir este verso, Sukadeva foi até Srila Vyasadeva, que então lhe ensinou todo o Srimad-Bhagavatam.

Como foi mencionado anteriormente, os sábios da Naimisaranya haviam perguntado como a alma pode ser feliz. Assim, agora, tendo sido requisitado pelos sábios na Naimisaranya para falar sobre as escrituras reveladas, Sri Suta Gosvami ofereceu humildes reverências para seu Gurudeva, Sukadeva Gosvami, porque ele estava no curso de recitar o Srimad-Bhagavatam.

Sri Suta Gosvami orou:

yah svanubhavam akhila-sruti-saram ekam
adhyatma-dipam atititirsatam tamo 'ndham
samsarinam karunayaha purana-guhyam
tam vyasa-sunum upayami gurum muninam

["Deixe-me oferecer minhas respeitosas a ele, o mestre spiritual de todos os sábios, o filho Vyasadeva, que além de sua grande compaixão por aqueles materialistas grosseiros que se esforçam em cruzar a região escura da existência material, falou este mais confidencial suplemento da nata do conhecimeno Védico, após de tê-lo assimilado através da experiência." (Srimad-Bhagavatam 1.2.3)]

Este Srimad-Bhagavatam é a essência de toda a literatura Védica: os Puranas, e Mahabharata, Ramayana, Bhagavad-Gita e todas as outras escrituras. O Srimad-Bhagavatam é como uma lamparina. Pelo auxílio da lamparina nós podemos ver a nós mesmos e os outros na escuridão. Similarmente, ao ler e seguir o Srimad-Bhagavatam e ouvir de algum Guru autêntico, nós podemos ver o Krsna transcendental junto com Seus associados e doces passatempos.

Srila Vyasadeva ensinou seu filho com compaixão, e com grande misericórdia para o mundo inteiro e para todas as entidades vivas. Nós deveríamos ouvir o Srimad-Bhagavatam.

(Em breve a continuação)

[*Nota de rodapé 1 – Esta história está relacionada no livro de Sri Kavi Karnapura, Ananda Vrndavana Campu.

[*Nota de rodapé 2 - O Bhagavatam é eterno e Srila Sukadeva Gosvami, também. O Bhagavatam é a estoria de Bhagavan (a Suprema Personalidade de Deus e de seus devotos. Quando ele é relatado, o contexto de cada narração posterior é adicionada ao texto, mas ele permanece o mesmo Bhagavatam. Antes dele ser escrito por Srila Vyasadeva, ele surgiu como tradição oral. Mesmo os quatro versos originais foram chamados Bhagavatam até que eles fossem gradualmente se expandindo.

Assim, o Bhagavatam existiu antes de Srila Vyasadeva realizá-lo em trânse e então revisá-lo e ensiná-lo para Sukadeva Gosvami. O Srimad-Bhagavatam (1.7.8) cita: "O grande sábio Vyasadeva, depois de compilar o Srimad-Bhagavatam e revisá-lo, ensinou-o a seu próprio filho, Sri Sukadeva Gosvami, que já estava ocupado no caminho da auto-realização."]

[*Nota de rodapé 3 – Samskaras são impressões na mente de experiências anteriores ou atos feitos em um estado de existência germinal. Neste contexto a palavra refere-se aos rituais Vedicos designados que são realizados de tempos em tempos desde a concepção até a morte. Seu propósito é purificar o ser humano.]

Conselho Editorial: Pujyapad Madhava Maharaja, Sripad Brajanath dasa e Sri Prema Prayojana dasa
Editoração: Syamarani dasi
Transcrição: Krsna-vallabha dasi
Digitação: Janaki dasi
Revisão: Krsna-kamini dasi
Tradução: Govinda dasi

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