25 / 03 / 2010
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou na noite de quarta-feira (24) a criação de uma secretaria especial para cuidar da saúde indígena. A nova unidade irá compor a estrutura central do Ministério da Saúde, assumindo a responsabilidade por elaborar, propor e implementar as políticas públicas de promoção e proteção da saúde indígena, parte das atribuições até então reservadas à Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
A MP deverá ser publicada no Diário Oficial da União de quinta-feira (25), detalhando o funcionamento e como serão preenchidos os cargos a serem criados. A MP também irá transformar as secretarias especiais dos Direitos Humanos, dos Portos, de Políticas para as Mulheres e da Promoção da Igualdade Racial em órgãos essenciais da Presidência da República.
“Eu ia deixar para assinar a medida no próximo dia 19, Dia do Índio, mas aí eu percebi que aqui ia haver muito índio e que algum deles podia estar armado e então decidi assinar logo”, disse brincando o presidente durante a cerimônia de entrega do 3º Prêmio Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – Brasil, realizado em Brasília.
O presidente aproveitou a presença do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, para alertar o ministro sobre a importância do trabalho da nova secretaria. “A secretaria poderá começar a funcionar logo, e eu espero que a gente faça mais e melhor do que a gente vem fazendo. Agora a responsabilidade será maior porque antes você [o ministro José Gomes Temporão] tinha alguém para culpar. Hoje, o responsável é você e vamos cobrar diretamente de você”, disse.
Fontes: Agência Brasil
Foto: www.indiosonline.org.br
Materializadas em bits toxinas neurais trazidas pelos ventos daquilo que simplesmente é. Isto é nada se não for para o Todo.
segunda-feira, 29 de março de 2010
terça-feira, 23 de março de 2010
Arte e Artesanato produzidos por indígenas da etnia Tenetehara/Guajajara
Artistas e artesãos indígenas da etnia Tenetehara/Guajajara estão exibindo seus trabalhos diariamente, das 14 às 23 horas, na Rio Mundi - Feira Internacional de Artesanato – que se estende até domingo, dia 28/03, no Jockey Club (Praça Santos Dumont, 31, Gávea, Rio de Janeiro).
No stand da etnia Tenetehara (Guajajara) estão acontecendo diariamente oficinas de tear e artesanato, assim como, realiza-se pintura corporal, com motivos étnicos, nos interessados.
O espaço Tenetehara expõe e comercializa bolsas, redes, cestos, colares, brincos, pulseiras, tornozeleiras, prendedores de cabelos, tipóias e maracás.
O artesanato Tenetehara, produzido a partir de matérias primas encontradas na natureza, tais como fibras, sementes, madeira e palha, é admirado por seu apuro estético e pela beleza singular. Com grande valor artístico, os adornos, assim como, os objetos utilitários e ritualísticos em exposição, representam a expressão cultural desse grande povo de Tronco Tupi.
O cantor e Pajé Ximon Tenetehara apresentou-se no último domingo, dia 21/03, acompanhado de Tcharry Tenetehara, com cantos da Festa do Moqueado – com grande sucesso de público. Durante o transcorrer do evento haverá outras apresentações de cantos, danças e rituais dessa etnia que é conhecida como “o Povo do Maracá”.
A Feira Internacional de Artesanato ocorre diariamente, das 14 às 23 horas, no Jockey Club, na Gávea (Praça Santos Dumont, 31), com encerramento no domingo, dia 28/03/2010.
Maiores informações: 021-8676-2843 (Ximon, cantor e Pajé), 021-8293-6216 (Elaíde, artesã) e 021-9504-7517 (Urutau ou José Guajajara, artesão, lingüista e assessor antropológico).
No stand da etnia Tenetehara (Guajajara) estão acontecendo diariamente oficinas de tear e artesanato, assim como, realiza-se pintura corporal, com motivos étnicos, nos interessados.
O espaço Tenetehara expõe e comercializa bolsas, redes, cestos, colares, brincos, pulseiras, tornozeleiras, prendedores de cabelos, tipóias e maracás.
O artesanato Tenetehara, produzido a partir de matérias primas encontradas na natureza, tais como fibras, sementes, madeira e palha, é admirado por seu apuro estético e pela beleza singular. Com grande valor artístico, os adornos, assim como, os objetos utilitários e ritualísticos em exposição, representam a expressão cultural desse grande povo de Tronco Tupi.
O cantor e Pajé Ximon Tenetehara apresentou-se no último domingo, dia 21/03, acompanhado de Tcharry Tenetehara, com cantos da Festa do Moqueado – com grande sucesso de público. Durante o transcorrer do evento haverá outras apresentações de cantos, danças e rituais dessa etnia que é conhecida como “o Povo do Maracá”.
A Feira Internacional de Artesanato ocorre diariamente, das 14 às 23 horas, no Jockey Club, na Gávea (Praça Santos Dumont, 31), com encerramento no domingo, dia 28/03/2010.
Maiores informações: 021-8676-2843 (Ximon, cantor e Pajé), 021-8293-6216 (Elaíde, artesã) e 021-9504-7517 (Urutau ou José Guajajara, artesão, lingüista e assessor antropológico).
quinta-feira, 18 de março de 2010
Agressão da Polícia Federal aos Tupinambá
Por favor leiam e repassem!
A ganância e a exploração capitalistas têm mais importância no governo do que a sobrevivência física e cultural dos nossos povos, é lamentável, sob todos os aspectos a negação do direito á saúde e educação dos povos que ainda dependem do inicio do procedimento de demarcação de suas terras sem que haja a aprovação de Novo Estatuto dos Povos Indígenas.Foram muitas liminares concedidas em favor de invasores e para a expulsão de indígenas de suas terras, como está acontecendo sistematicamente com o povo Tupinambá de Serra do Padeiro, onde o cacique Rosivaldo Silva, conhecido como cacique Babau que foi preso, acusado de tentativa de homicídio, cárcere privado, formação de quadrilha, invasão de propriedade e depredação de bens públicos, por tentar defender o seu espaço de direito. No Congresso Nacional o que está em curso é uma forte articulação política liderada pelas forças do agro negócio com apoio de importantes setores governamentais para restringir os nossos direitos. São numerosas as propostas de emendas constitucionais e projetos de lei que visam suprimir os direitos indígenas principalmente em relação às terras e para o acesso aos recursos naturais.
A conseqüência imediata dessa política, que em nome de um desenvolvimento excludente e depredador e que serve apenas para manter os níveis absurdos de consumo das elites, é a violência praticada contra nossos povos. Aproximadamente 100 índios foram assassinados, comunidades indígenas foram queimadas, mulheres e crianças indígenas ameaçadas de morte e aliados sequestrado sem beira de estrada, impedido de ocupar suas terras já demarcadas. A discriminação ainda pode ser percebida em discursos políticos e ações de órgãos governamentais quando desconsideram o direito á diferença.
Isso pode ser constatado quando se nega o direito territorial indígena na faixa de fronteira, impondo a criação de núcleos urbanos não índios para a garantia da "soberania nacional", quando se nega a identidade dos povos indígena dos povos resistentes e quando a atenção á educação e á saúde específica e diferenciada permanece somente no discurso.
Estamos cansados de enviar documentos e bater nas portas dos gabinetes governamentais sem que haja respostas para a solução dos graves problemas que enfrentamos, apesar de todo esforço de nossas comunidades, povos e organizações, persisitem a omissão, o descaso e a morosidade do governo em garantir a demarcação de nossas terras.
Fonte;Pesquisa;Carta dos Povos Indígenas do Brasil
Paula Kalantã
( indigena e graduada em jornalismo)
Outros linx:
http://www.ecodebate.com.br
http://www.correiocidadania.com.br
http://www.brasildefato.com.br
http://www.webbrasilindigena.org/
http://revistaepoca.globo.com
terça-feira, 9 de março de 2010
INSTITUTO TAMOIO APRESENTA: “ A VOLTA DA ARARA AMARELA”
Ponto de cultura indígena - ocupação no antigo museu do índio.
INSTITUTO TAMOIO APRESENTA: “ A VOLTA DA ARARA AMARELA”
REFLEXÃO NO 5º ENCONTRO DE CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS DOS 100 ANOS DA CRIAÇÃO DO SPI ( SERVIÇO DE PROTEÇÃO DO ÍNDIO ).
QUE ACONTECE NO DIA 20 DE MARÇO DE 2010
ABERTURA DO EVENTO:
10HS ÀS 13HS – SERÁ PREPARADO UM “MANGUTI” ( ALMOÇO INDÍGENA NA CULTURA PATAXÓ), ONDE É PREPARADO PEIXE NA FOLHA DE BANANEIRA COM
AIPIM,BATATA DOCÊ E SUCO DE FRUTA PARA ACOMPANHAR.
MOMENTO DE REFLEXÃO:
13HS ÀS 14HS -LEITURA DA CARTA MAGNA DOS DIREITOS INDÍGENAS;
-PALESTRA SOBRE A CRIAÇÃO DO SERVIÇO DE PROTEÇÃO DO ÍNDIO-SPI.
( FEITA POR ARÃO DA PROVIDÊNCIA ).
A PARTIR DAS 14HS - MERGULHO NA CULTURA INDÍGENA COM:
-CINE INDÍGENA;
-PINTURA CORPORAL;
-EXPOSIÇÃO: ARTESANATO DE MATERIAL DO COQUEIRO E ACHADOS DO PREDIO DO MUSEU.
15HS-RODA DE CAPOEIRA COM O FUNDADOR DE GRUPO ARTE NOBRE – MESTRE GRILO
16HS- INÍCIO A NOSSA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COM:
MADRINHA DO EVENTO: INDIARA CAIAPÓ
OS CONTADORES : AFONSO APURINÃ, CAROLINA POTIGUARA, DAUÁ PURI E COM A
PARTICIPAÇÃO : ARASSARI PATAXÓ, E A AMIGA CARMEL FARIAS.
TEMA: COMUNICAÇÃO DO INDIO E A INTEGRAÇÃO DO BRASIL
17HS: DANÇA DO AWÊ, TORÉ DE VÁRIAS ETNIAS: PATAXÓ,GUAJAJARA E OUTRAS..
ANTIGO MUSEU DO INDIO, ATUAL PONTO DE CULTURA INDIGENA
RUA MATA MACHADO 126 – EM FRENTE AO PORTÃO 13 DO MARACANÃ
VENHA CONHECER A HISTORIA E A ARTE INDIGENA, PARTICIPE!
INFORMAÇÃO: www.indioemovimento.blogspot.com.br,
indiosemcontextourbano@blospot.com.br
Foto: Ana Cotta
http://www.flickr.com/photos/ana_cotta/2653596553/
terça-feira, 2 de março de 2010
A verdade sobre o mito Gentileza
Luiza Petersen
Professora
Marcelo Câmara
Jornalista e escritor
(Publicado no Jornal do Brasil,
edição de domingo, 21.2.2010,
com "chamada" de primeira página.)
Muito se tem escrito, falado e teorizado sobre o "Profeta" Gentileza, (José Datrino, 1917-1996), personagem errante no Grande Rio no final do último século. Artigos, reportagens, livros, filmes, Gentileza virou tema e motivo de produção cultural e até tese acadêmica em universidade. Hoje as palavras, frases, bordões, traços, linhas e desenhos, quase todos sem sentido, que criou, escreveu e portava em um estandarte e que também gravou em viadutos e muros do Rio de Janeiro, foram transformados em mensagens e design de produtos hoje largamente comercializados em shoppings e por camelôs da cidade. Gentileza virou interesse na universidade, diversão intelectual; produto, marca, negócio no mercado.
Conhecemos o Gentileza, em meados da década de 1960 em Niterói, onde vivemos infância e juventude. Era encontrado sempre no centro da cidade, na Estação das Barcas, na Praça Araribóia, seu ponto mais constante, onde passava manhãs e tardes inteiras, anunciando o fim dos tempos, vociferando sem trégua contra a moral então vigente, os costumes da época, especialmente criticando comportamento, posturas e modos de trajar de rapazes e moças. Também viajava na barca Rio-Niterói, nos dois destinos. O que se sabia, à época, era que Gentileza residia em Niterói, cidade onde teve o auge de toda a sua "peregrinação" crítica e delatora nos anos de 1960 e 1970.
Nós, toda a geração que assistiu o aparecimento do Gentileza e com ele conviveu, quase que cotidianamente, pelo menos naquelas duas décadas, podemos afirmar que Gentileza nunca foi "poeta", nem, ao menos, trazia poesia ou poeticidade em suas falações. Gentileza também não foi "profeta" ou "filósofo". José Datrino era um motorista de caminhão alfabetizado que fazia frete em Niterói e cidades vizinhas. A versão generalizada que campeava à época, e jamais destruída, dava conta de que, por ter perdido toda a família no incêndio de 1961, do Gran Circus Norte-Americano na cidade, ficou louco, passou a vestir uma túnica branca, a portar uma tábua com inscrições e a "pregar" a segunda vinda do Cristo, ao tempo que condenava hábitos e costumes de população.
Furioso, agressivo, truculento, com cabelos e barba compridos, objeto de chacota de alguns, figura estranha para muitos e bicho-papão para as criancinhas, se vestia como um taumaturgo, um Antonio Conselheiro urbano. Mas nada tinha de poesia, de paz, de ternura ou doçura em suas palavras, como hoje se canta e se enaltece na academia e na mídia. Gentileza falava, desacertada e incansavelmente, menos sobre "gentileza", perdão e amor, e mais, e muito, e sempre, muito mais sobre pecados, demônios, crimes, castigos, martírios e apocalipses. Vociferava, ofendia e ameaçava espancar transeuntes. Algumas vezes, a polícia era chamada para "acalmar" o Gentileza, tal a sua ira insana.
Sua fala era moralista, medievalesca, maniqueísta, repleta de palavras odiosas, algumas vezes chulas e pornográficas. Tinha um discurso escatológico, esquizofrênico, completamente desarrazoado, contraditório e quase sempre surpreendente, digno de pena e de humor. Combatia o consumismo e satanizava a moda na sociedade e a vaidade das mulheres. As suas principais vítimas eram as mulheres de mini-saia ou com calças apertadas, de cabelos curtos, que usavam maquiagem, salto alto e adereços. E os homens com roupas extravagantes para a época como as calças apertadas, bocas-de-sino, camisas coloridas etc. A maioria da população, especialmente as mulheres e crianças, fugia, corria dele, no mínimo se assustava muito, se horrorizava com figura fantasmagórica do Gentileza.
Quem diz ou escreve diferente ou ao contrário disto sobre ele não conheceu o Gentileza, nunca o viu, não o conheceu, jamais o ouviu. Apenas perscruta as suas intrigantes inscrições, as pinça num cipoal léxico caótico, e constrói um personagem que quer, que lhe convém, mas que, verdadeiramente, nunca existiu. Após a sua morte, criou-se o mito Gentileza, curou-se o pobre Datrino, sublimou-se o pisicótico e se montou uma ideologia humanística, atribuindo-lhe mensagens de paz e amor ao próximo, respeito aos direitos humanos e convivência solidária e cristã - tudo baseado nas palavras e frases que ele escreveu, primeiro no estandarte que carregava em suas andanças e, depois, no final da vida, fixadas por ele nos viadutos da Avenida Brasil e outros planos da cidade do Rio de Janeiro. Se, nesse tempo carioca, ele se transformou em "profeta, poeta, filósofo, santo", se travestiu em uma figura gentil, cordial, serena, santa, dócil, piedosa, socialmente necessária e admirável - certamente, este personagem, para os que conviveram com ele nos anos 1960 e 1970 em Niterói, será, no mínimo, irreconhecível, espantoso, inimaginável.
"Gentileza gera Gentileza" era apenas um bordão curioso, rítmico, consonante, entre muitos outros semanticamente desastrosos, que, agora, é apropriado e sacralizado pela academia, no meio de uma infinidade de locuções ora sem nexo e ingênuas, ora típicas de um alienado, de um esquizofrênico. Transformá-lo em taumaturgo de verdade, filósofo, profeta, poeta ou designer gráfico é possível. Basta abstrair, criativamente, essas categorias, reinventá-las como idéias e conceitos, manipulá-las, transportando-as da fragmentada e doentia personalidade do pobre José Datrino para qualquer território "sadio" e lógico. Pronto: eis o "profeta" e mais uma "filosofia".
Recentemente, veiculou-se até que música de Marisa Monte denominada Gentileza, constitui a primeira e única homenagem a José Datrino, uma descoberta da cantora e compositora. Não é verdade. Muitos anos antes, Gonzaguinha, também crente nesse humanismo importante e válido, porém fabricado por intelectuais, sem a autoria de Datrino e deste póstumo, foi o primeiro a cantar com ingenuidade o personagem, e com muito mais beleza e propriedade, ao compor a música Gentileza, incluída em seu CD Gonzaguinha Cavaleiro Solitário (Som Livre, 1993).
Professora
Marcelo Câmara
Jornalista e escritor
(Publicado no Jornal do Brasil,
edição de domingo, 21.2.2010,
com "chamada" de primeira página.)
Muito se tem escrito, falado e teorizado sobre o "Profeta" Gentileza, (José Datrino, 1917-1996), personagem errante no Grande Rio no final do último século. Artigos, reportagens, livros, filmes, Gentileza virou tema e motivo de produção cultural e até tese acadêmica em universidade. Hoje as palavras, frases, bordões, traços, linhas e desenhos, quase todos sem sentido, que criou, escreveu e portava em um estandarte e que também gravou em viadutos e muros do Rio de Janeiro, foram transformados em mensagens e design de produtos hoje largamente comercializados em shoppings e por camelôs da cidade. Gentileza virou interesse na universidade, diversão intelectual; produto, marca, negócio no mercado.
Conhecemos o Gentileza, em meados da década de 1960 em Niterói, onde vivemos infância e juventude. Era encontrado sempre no centro da cidade, na Estação das Barcas, na Praça Araribóia, seu ponto mais constante, onde passava manhãs e tardes inteiras, anunciando o fim dos tempos, vociferando sem trégua contra a moral então vigente, os costumes da época, especialmente criticando comportamento, posturas e modos de trajar de rapazes e moças. Também viajava na barca Rio-Niterói, nos dois destinos. O que se sabia, à época, era que Gentileza residia em Niterói, cidade onde teve o auge de toda a sua "peregrinação" crítica e delatora nos anos de 1960 e 1970.
Nós, toda a geração que assistiu o aparecimento do Gentileza e com ele conviveu, quase que cotidianamente, pelo menos naquelas duas décadas, podemos afirmar que Gentileza nunca foi "poeta", nem, ao menos, trazia poesia ou poeticidade em suas falações. Gentileza também não foi "profeta" ou "filósofo". José Datrino era um motorista de caminhão alfabetizado que fazia frete em Niterói e cidades vizinhas. A versão generalizada que campeava à época, e jamais destruída, dava conta de que, por ter perdido toda a família no incêndio de 1961, do Gran Circus Norte-Americano na cidade, ficou louco, passou a vestir uma túnica branca, a portar uma tábua com inscrições e a "pregar" a segunda vinda do Cristo, ao tempo que condenava hábitos e costumes de população.
Furioso, agressivo, truculento, com cabelos e barba compridos, objeto de chacota de alguns, figura estranha para muitos e bicho-papão para as criancinhas, se vestia como um taumaturgo, um Antonio Conselheiro urbano. Mas nada tinha de poesia, de paz, de ternura ou doçura em suas palavras, como hoje se canta e se enaltece na academia e na mídia. Gentileza falava, desacertada e incansavelmente, menos sobre "gentileza", perdão e amor, e mais, e muito, e sempre, muito mais sobre pecados, demônios, crimes, castigos, martírios e apocalipses. Vociferava, ofendia e ameaçava espancar transeuntes. Algumas vezes, a polícia era chamada para "acalmar" o Gentileza, tal a sua ira insana.
Sua fala era moralista, medievalesca, maniqueísta, repleta de palavras odiosas, algumas vezes chulas e pornográficas. Tinha um discurso escatológico, esquizofrênico, completamente desarrazoado, contraditório e quase sempre surpreendente, digno de pena e de humor. Combatia o consumismo e satanizava a moda na sociedade e a vaidade das mulheres. As suas principais vítimas eram as mulheres de mini-saia ou com calças apertadas, de cabelos curtos, que usavam maquiagem, salto alto e adereços. E os homens com roupas extravagantes para a época como as calças apertadas, bocas-de-sino, camisas coloridas etc. A maioria da população, especialmente as mulheres e crianças, fugia, corria dele, no mínimo se assustava muito, se horrorizava com figura fantasmagórica do Gentileza.
Quem diz ou escreve diferente ou ao contrário disto sobre ele não conheceu o Gentileza, nunca o viu, não o conheceu, jamais o ouviu. Apenas perscruta as suas intrigantes inscrições, as pinça num cipoal léxico caótico, e constrói um personagem que quer, que lhe convém, mas que, verdadeiramente, nunca existiu. Após a sua morte, criou-se o mito Gentileza, curou-se o pobre Datrino, sublimou-se o pisicótico e se montou uma ideologia humanística, atribuindo-lhe mensagens de paz e amor ao próximo, respeito aos direitos humanos e convivência solidária e cristã - tudo baseado nas palavras e frases que ele escreveu, primeiro no estandarte que carregava em suas andanças e, depois, no final da vida, fixadas por ele nos viadutos da Avenida Brasil e outros planos da cidade do Rio de Janeiro. Se, nesse tempo carioca, ele se transformou em "profeta, poeta, filósofo, santo", se travestiu em uma figura gentil, cordial, serena, santa, dócil, piedosa, socialmente necessária e admirável - certamente, este personagem, para os que conviveram com ele nos anos 1960 e 1970 em Niterói, será, no mínimo, irreconhecível, espantoso, inimaginável.
"Gentileza gera Gentileza" era apenas um bordão curioso, rítmico, consonante, entre muitos outros semanticamente desastrosos, que, agora, é apropriado e sacralizado pela academia, no meio de uma infinidade de locuções ora sem nexo e ingênuas, ora típicas de um alienado, de um esquizofrênico. Transformá-lo em taumaturgo de verdade, filósofo, profeta, poeta ou designer gráfico é possível. Basta abstrair, criativamente, essas categorias, reinventá-las como idéias e conceitos, manipulá-las, transportando-as da fragmentada e doentia personalidade do pobre José Datrino para qualquer território "sadio" e lógico. Pronto: eis o "profeta" e mais uma "filosofia".
Recentemente, veiculou-se até que música de Marisa Monte denominada Gentileza, constitui a primeira e única homenagem a José Datrino, uma descoberta da cantora e compositora. Não é verdade. Muitos anos antes, Gonzaguinha, também crente nesse humanismo importante e válido, porém fabricado por intelectuais, sem a autoria de Datrino e deste póstumo, foi o primeiro a cantar com ingenuidade o personagem, e com muito mais beleza e propriedade, ao compor a música Gentileza, incluída em seu CD Gonzaguinha Cavaleiro Solitário (Som Livre, 1993).
segunda-feira, 1 de março de 2010
Operação Irregular Despeja Família em Niterói
Murilo Marques Filho kararao@gmail.com
Na última quinta-feira, dia 25/02/2010, no loteamento Maravista, em Itaipu (Niterói - RJ), uma família de índios Tenetehara - Pajé, esposa e sete crianças entre 2 e 14 anos - foi despejada na chuva, na lama, sem tempo suficiente sequer para recolher todos os seus pertences (a ação está gravada em vídeo).
Uma mega-operação foi formada – que contou com representantes municipais da Secretaria de Obras, Meio Ambiente, Assistência Social, Conselho Tutelar, Fiscalização, Controle Urbano e apoio da Guarda Municipal, Polícia Civil e Polícia Militar, somando mais de 50 pessoas – para derrubar uma simples casa de barro e taboca (taquara); a ação foi comandada pessoalmente pelo Secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Niterói, José Antonio Fernandes (Zaff), que teve o seu deboche registrado em vídeo, além de haver alegado diante de dezenas de testemunhas (para justificar a operação) que: “Índio em Niterói só o Araribóia!”
O jornal O Globo – Niterói que tinha conhecimento total da operação, assim como conhecimento prévio da intenção da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de agir contra os indígenas, não enviou nenhuma equipe ao local com a possível intenção de preservar a imagem do secretário Zaff – um político que certamente não quer ser visto pela opinião pública como racista nem algoz de crianças indígenas – ou, numa hipótese pior ainda, para não testemunhar possíveis truculências, em um caso flagrante de omissão profissional. Uma viatura da Polícia Civil estacionou na entrada do terreno e policiais desceram em direção da casa cerca de cinco ou dez minutos antes da chegada dos agentes municipais, mas ao verem uma câmera de vídeo retornaram ao carro (o que faz crer que, com a ausência de uma câmera para testemunhar, a ação poderia ter sido mais severa).
Sob a justificativa de que se tratava de área de preservação ambiental, não houve notificação prévia do despejo, pegando todos de surpresa em um dia de muita chuva e lama. A casa, construída dentro de um loteamento reconhecido pela própria prefeitura (ver mapa em anexo), em terreno comprado com dinheiro próprio, foi derrubada logo em seguida, sem nenhuma chance de conversação.
Os agentes públicos já entraram na propriedade dizendo ao Pajé Shimon Tenetehara que arrumasse “suas coisas”, pois teria que sair imediatamente e “decidir logo” se iria com a família “para um abrigo ou de volta para o Maranhão”. Diziam ao Pajé, entre outras coisas, que é difícil arrumar matricula nos colégios públicos da cidade e que os seus filhos “tomam as vagas de crianças de Niterói”.
Um dos agentes municipais que coordenavam a operação se recusou a falar – por celular - com o advogado da família, Arão da Providência, da Comissão de Direitos Humanos da OAB - que se encontrava preso em um engarrafamento na Ponte Rio Niterói, se dirigindo para o local com a escritura do terreno e o mapa do loteamento – mandando derrubar a construção imediatamente. Alegaram que uma árvore havia sido cortada pelos indígenas, o que caracterizaria crime ambiental, mas registros em vídeo feitos no terreno antes mesmo da chegada da família Tenetehara (e durante todo o processo de construção da casa) provam que o local era um antigo campo de futebol tomado por um capinzal – não havendo árvores a serem cortadas.
Diante da alegação de que - exatamente defronte ao local aonde os agentes estacionaram as viaturas - há um casarão de dois andares com cerca de 20 árvores cortadas no terreno (os tocos escandalosamente aparentes) e que a 50 metros da humilde casa Tenetehara há uma mansão de três andares construída sobre a pedra (o que é ilícito ambiental previsto pelo Sistema Nacional Único de Conservação) e habitada por norte-americanos, fica claro que a mega-operação da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Niterói contra a habitação indígena se caracteriza como um nítido exemplo de racismo e perseguição contra os índios brasileiros, os servidores municipais se calaram e seguiram no seu trabalho de coação e destruição.
Enquanto a casa era derrubada, membros do Conselho Tutelar afirmaram com cinismo terrorista que era preciso “levar as crianças”, pois estariam “expostos em situação de risco sob a chuva” (as crianças, todas matriculadas em escolas públicas da região estavam bem, felizes e protegidas da chuva e sob o amparo e o aconchego familiar momentos antes da operação que derrubou o seu lar – como provam as imagens em vídeo). A tortura psicológica cruel e desnecessária - imposta por puro sadismo, como um tormento a mais - só cessou quando chegaram os parentes de Shimon Tenetehara que vivem no Rio de Janeiro, entre eles um advogado.
A esposa do Pajé, Maria, que teve pertences destruídos, passou mal durante a operação, desmaiando e ficando caída no chão. Nenhum dos cerca de 50 servidores e representantes municipais, tão ciosos em aterrorizar a senhora, que sofre com a pressão alta, fez a mínima menção de socorrê-la ou de chamar uma ambulância. As crianças choravam em desespero sob a indiferença dos agentes.
Durante a ação, o taxista Marcos Miranda teve o seu direito de ir e vir cerceado por um policial civil que o mandou parar, sendo impedido de aproximar seu carro do terreno, mesmo tendo declarado que estava fazendo um trabalho para o advogado Arão da Providência – só podendo subir a rua com a operação finalizada.
Agentes da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Niterói já haviam estado no terreno na segunda-feira, dia 22/02, alegando que averiguavam uma denúncia de que haviam “cortado uma árvore” e expressaram a preocupação com a possibilidade do local se transformar em uma “favela indígena” (o que denota mais inquietação quanto aos danos na cotação da área no mercado imobiliário do que propriamente com a questão ambiental). No dia seguinte, representantes da família indígena foram à Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Niterói e conversaram com os fiscais que lá estiveram e esses disseram que não havia processo administrativo nem flagrante ambiental, afirmando que nada fariam contra a família que se encontrava no local.
Na ocasião, os representantes Tenetehara – proprietários do terreno – manifestaram o interesse de apresentar ao secretário Zaff um Plano de Manejo Sustentável, projeto que daria destinação à propriedade, aprovado pelas populações tradicionais de Niterói e pelo Fórum Estadual Intersetorial “Voz aos Povos: Quilombolas, Assentados e Acampados Rurais, Indígenas e Pescadores Artesanais”, entre outros fóruns e conselhos. Ficou marcada uma reunião com o secretário Zaff para ontem, dia 26/02, às 11 horas da manhã, o que indica que esse atropelo de agenda feito pela secretaria – em ação, marcada pela total ausência de contraditório e pelo desrespeito à dignidade humana, sobre uma área na qual não havia processo administrativo até o dia 23/02 – pode ser interpretada como fruto de decisão pessoal de José Carlos Fernandes, o Zaff , que não quer saber de projeto de manejo sustentável, muito menos de famílias indígenas habitando em Niterói.
A atitude discriminatória e persecutória das autoridades municipais atingiu em cheio os moradores tradicionais da região que foram ameaçados de perder suas posses caso tentassem “ajudar os índios”. Uma família de ocupantes tradicionais, desprovida de recursos, teve a sua caixa d’água apreendida por ter dado apoio e solidariedade aos indígenas durante a operação de quinta-feira. Ontem, 26/02, agentes municipais foram à casa de uma vizinha solidária, moradora tradicional, e, coagindo a senhora – com uma atitude arrogante e debochada, rindo e fazendo piadas na casa dela -, retiraram pertences da família indígena que ela havia guardado para devolver e levaram para o Depósito Municipal.
O atual secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Niterói - herdeiro da Expresso Barreto, uma das empresas de ônibus que mais desrespeitam o usuário no município - é bem conhecido pela sua ligação afetuosa com o mercado imobiliário. Quando vereador, Zaff não apenas demonstrou ser um ótimo amigo das empresas do ramo, como apresentou moção de congratulação à Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Niterói, a ADEMI, em 2007. Uma das realizações de Zaff quando edil foi a de conceder título de Cidadão Niteroiense ao seu bom camarada Stuessel Amora, um nome fortemente ligado à especulação imobiliária que promoveu campanha impiedosa e racista contra a presença de índios em Niterói em 2008, apresentando, inclusive – por meio da Soprecam, entidade da qual é eterno presidente -, uma liminar acatada pelo Juiz Luiz Clemente Pereira Filho, da Terceira Vara Federal, visando “impedir o aumento da população indígena em Camboinhas”.
Engana-se quem pensa que o Governo Jorge Roberto Silveira cometeu um equívoco ao escolher um personagem tão desvinculado ao ambientalismo como José Antonio Fernandes para a pasta de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. O prefeito – cujo ato final de seu último governo foi a aprovação do PUR (Plano Urbanístico Regional), que passava por cima de toda legislação ambiental e de proteção ao patrimônio histórico, prevendo edificações sobre áreas de proteção ambiental e sobre sítios arqueológicos da cidade – paga ao jovem herdeiro do setor de transportes a sua fidelidade ao setor imobiliário.
A ação covarde e racista promovida pela Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos no loteamento coalhado de placas de “vende-se” (não é segredo para o poder público municipal que o terreno ao lado da casa do Pajé está sendo vendido com o “habite-se” incluído, o que significará uma derrubada considerável de árvores), sob a alegação de se tratar de uma “área de proteção ambiental”, demonstra uma clara preocupação de que a área desvalorize com o possível surgimento de “uma favela indígena” - segundo a expressão cunhada por Stuessel Amora - e nenhuma preocupação com o meio ambiente em si.
O único crime que os Tenetehara desalojados em Maravista cometeram foi o de serem pobres – indígenas – e de construírem uma humilde casinha de taquara; o único “ilícito” cometido pelo Pajé Shimon Tenetehara foi o de ser indígena e ocupar – legalmente – uma área cobiçada pela especulação imobiliária.
A dor e a impotência do casal indígena e o terror experimentado pelas suas crianças ficarão gravados na carne. Dinheiro algum pagará por esse dano. Graças à imagem em movimento – e à invenção da câmera digital - esse terror ficará para sempre marcado na carreira política do senhor Zaff, junto ao seu desprezo pelas populações pobres e marginalizadas, o seu racismo, a sua desfaçatez, a sua total ausência de compaixão, a sua covardia. O Governo Jorge Roberto Silveira tenta imprimir – a ferro e fogo – a imagem de que a Região Oceânica de Niterói não é “Terra de Índio” e, sim, uma Mônaco tropical, cafona e de cunho privado, destinada a novos burgueses e bem-nascidos. Mas a verdade luminosa que o Brasil inteiro é – por direito ancestral – berço e morada legítima dos Povos Originários – e de seus descendentes – para sempre resplandecerá nessa terra.
Por favor, repassem.
Na última quinta-feira, dia 25/02/2010, no loteamento Maravista, em Itaipu (Niterói - RJ), uma família de índios Tenetehara - Pajé, esposa e sete crianças entre 2 e 14 anos - foi despejada na chuva, na lama, sem tempo suficiente sequer para recolher todos os seus pertences (a ação está gravada em vídeo).
Uma mega-operação foi formada – que contou com representantes municipais da Secretaria de Obras, Meio Ambiente, Assistência Social, Conselho Tutelar, Fiscalização, Controle Urbano e apoio da Guarda Municipal, Polícia Civil e Polícia Militar, somando mais de 50 pessoas – para derrubar uma simples casa de barro e taboca (taquara); a ação foi comandada pessoalmente pelo Secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Niterói, José Antonio Fernandes (Zaff), que teve o seu deboche registrado em vídeo, além de haver alegado diante de dezenas de testemunhas (para justificar a operação) que: “Índio em Niterói só o Araribóia!”
O jornal O Globo – Niterói que tinha conhecimento total da operação, assim como conhecimento prévio da intenção da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de agir contra os indígenas, não enviou nenhuma equipe ao local com a possível intenção de preservar a imagem do secretário Zaff – um político que certamente não quer ser visto pela opinião pública como racista nem algoz de crianças indígenas – ou, numa hipótese pior ainda, para não testemunhar possíveis truculências, em um caso flagrante de omissão profissional. Uma viatura da Polícia Civil estacionou na entrada do terreno e policiais desceram em direção da casa cerca de cinco ou dez minutos antes da chegada dos agentes municipais, mas ao verem uma câmera de vídeo retornaram ao carro (o que faz crer que, com a ausência de uma câmera para testemunhar, a ação poderia ter sido mais severa).
Sob a justificativa de que se tratava de área de preservação ambiental, não houve notificação prévia do despejo, pegando todos de surpresa em um dia de muita chuva e lama. A casa, construída dentro de um loteamento reconhecido pela própria prefeitura (ver mapa em anexo), em terreno comprado com dinheiro próprio, foi derrubada logo em seguida, sem nenhuma chance de conversação.
Os agentes públicos já entraram na propriedade dizendo ao Pajé Shimon Tenetehara que arrumasse “suas coisas”, pois teria que sair imediatamente e “decidir logo” se iria com a família “para um abrigo ou de volta para o Maranhão”. Diziam ao Pajé, entre outras coisas, que é difícil arrumar matricula nos colégios públicos da cidade e que os seus filhos “tomam as vagas de crianças de Niterói”.
Um dos agentes municipais que coordenavam a operação se recusou a falar – por celular - com o advogado da família, Arão da Providência, da Comissão de Direitos Humanos da OAB - que se encontrava preso em um engarrafamento na Ponte Rio Niterói, se dirigindo para o local com a escritura do terreno e o mapa do loteamento – mandando derrubar a construção imediatamente. Alegaram que uma árvore havia sido cortada pelos indígenas, o que caracterizaria crime ambiental, mas registros em vídeo feitos no terreno antes mesmo da chegada da família Tenetehara (e durante todo o processo de construção da casa) provam que o local era um antigo campo de futebol tomado por um capinzal – não havendo árvores a serem cortadas.
Diante da alegação de que - exatamente defronte ao local aonde os agentes estacionaram as viaturas - há um casarão de dois andares com cerca de 20 árvores cortadas no terreno (os tocos escandalosamente aparentes) e que a 50 metros da humilde casa Tenetehara há uma mansão de três andares construída sobre a pedra (o que é ilícito ambiental previsto pelo Sistema Nacional Único de Conservação) e habitada por norte-americanos, fica claro que a mega-operação da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Niterói contra a habitação indígena se caracteriza como um nítido exemplo de racismo e perseguição contra os índios brasileiros, os servidores municipais se calaram e seguiram no seu trabalho de coação e destruição.
Enquanto a casa era derrubada, membros do Conselho Tutelar afirmaram com cinismo terrorista que era preciso “levar as crianças”, pois estariam “expostos em situação de risco sob a chuva” (as crianças, todas matriculadas em escolas públicas da região estavam bem, felizes e protegidas da chuva e sob o amparo e o aconchego familiar momentos antes da operação que derrubou o seu lar – como provam as imagens em vídeo). A tortura psicológica cruel e desnecessária - imposta por puro sadismo, como um tormento a mais - só cessou quando chegaram os parentes de Shimon Tenetehara que vivem no Rio de Janeiro, entre eles um advogado.
A esposa do Pajé, Maria, que teve pertences destruídos, passou mal durante a operação, desmaiando e ficando caída no chão. Nenhum dos cerca de 50 servidores e representantes municipais, tão ciosos em aterrorizar a senhora, que sofre com a pressão alta, fez a mínima menção de socorrê-la ou de chamar uma ambulância. As crianças choravam em desespero sob a indiferença dos agentes.
Durante a ação, o taxista Marcos Miranda teve o seu direito de ir e vir cerceado por um policial civil que o mandou parar, sendo impedido de aproximar seu carro do terreno, mesmo tendo declarado que estava fazendo um trabalho para o advogado Arão da Providência – só podendo subir a rua com a operação finalizada.
Agentes da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Niterói já haviam estado no terreno na segunda-feira, dia 22/02, alegando que averiguavam uma denúncia de que haviam “cortado uma árvore” e expressaram a preocupação com a possibilidade do local se transformar em uma “favela indígena” (o que denota mais inquietação quanto aos danos na cotação da área no mercado imobiliário do que propriamente com a questão ambiental). No dia seguinte, representantes da família indígena foram à Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Niterói e conversaram com os fiscais que lá estiveram e esses disseram que não havia processo administrativo nem flagrante ambiental, afirmando que nada fariam contra a família que se encontrava no local.
Na ocasião, os representantes Tenetehara – proprietários do terreno – manifestaram o interesse de apresentar ao secretário Zaff um Plano de Manejo Sustentável, projeto que daria destinação à propriedade, aprovado pelas populações tradicionais de Niterói e pelo Fórum Estadual Intersetorial “Voz aos Povos: Quilombolas, Assentados e Acampados Rurais, Indígenas e Pescadores Artesanais”, entre outros fóruns e conselhos. Ficou marcada uma reunião com o secretário Zaff para ontem, dia 26/02, às 11 horas da manhã, o que indica que esse atropelo de agenda feito pela secretaria – em ação, marcada pela total ausência de contraditório e pelo desrespeito à dignidade humana, sobre uma área na qual não havia processo administrativo até o dia 23/02 – pode ser interpretada como fruto de decisão pessoal de José Carlos Fernandes, o Zaff , que não quer saber de projeto de manejo sustentável, muito menos de famílias indígenas habitando em Niterói.
A atitude discriminatória e persecutória das autoridades municipais atingiu em cheio os moradores tradicionais da região que foram ameaçados de perder suas posses caso tentassem “ajudar os índios”. Uma família de ocupantes tradicionais, desprovida de recursos, teve a sua caixa d’água apreendida por ter dado apoio e solidariedade aos indígenas durante a operação de quinta-feira. Ontem, 26/02, agentes municipais foram à casa de uma vizinha solidária, moradora tradicional, e, coagindo a senhora – com uma atitude arrogante e debochada, rindo e fazendo piadas na casa dela -, retiraram pertences da família indígena que ela havia guardado para devolver e levaram para o Depósito Municipal.
O atual secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Niterói - herdeiro da Expresso Barreto, uma das empresas de ônibus que mais desrespeitam o usuário no município - é bem conhecido pela sua ligação afetuosa com o mercado imobiliário. Quando vereador, Zaff não apenas demonstrou ser um ótimo amigo das empresas do ramo, como apresentou moção de congratulação à Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Niterói, a ADEMI, em 2007. Uma das realizações de Zaff quando edil foi a de conceder título de Cidadão Niteroiense ao seu bom camarada Stuessel Amora, um nome fortemente ligado à especulação imobiliária que promoveu campanha impiedosa e racista contra a presença de índios em Niterói em 2008, apresentando, inclusive – por meio da Soprecam, entidade da qual é eterno presidente -, uma liminar acatada pelo Juiz Luiz Clemente Pereira Filho, da Terceira Vara Federal, visando “impedir o aumento da população indígena em Camboinhas”.
Engana-se quem pensa que o Governo Jorge Roberto Silveira cometeu um equívoco ao escolher um personagem tão desvinculado ao ambientalismo como José Antonio Fernandes para a pasta de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. O prefeito – cujo ato final de seu último governo foi a aprovação do PUR (Plano Urbanístico Regional), que passava por cima de toda legislação ambiental e de proteção ao patrimônio histórico, prevendo edificações sobre áreas de proteção ambiental e sobre sítios arqueológicos da cidade – paga ao jovem herdeiro do setor de transportes a sua fidelidade ao setor imobiliário.
A ação covarde e racista promovida pela Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos no loteamento coalhado de placas de “vende-se” (não é segredo para o poder público municipal que o terreno ao lado da casa do Pajé está sendo vendido com o “habite-se” incluído, o que significará uma derrubada considerável de árvores), sob a alegação de se tratar de uma “área de proteção ambiental”, demonstra uma clara preocupação de que a área desvalorize com o possível surgimento de “uma favela indígena” - segundo a expressão cunhada por Stuessel Amora - e nenhuma preocupação com o meio ambiente em si.
O único crime que os Tenetehara desalojados em Maravista cometeram foi o de serem pobres – indígenas – e de construírem uma humilde casinha de taquara; o único “ilícito” cometido pelo Pajé Shimon Tenetehara foi o de ser indígena e ocupar – legalmente – uma área cobiçada pela especulação imobiliária.
A dor e a impotência do casal indígena e o terror experimentado pelas suas crianças ficarão gravados na carne. Dinheiro algum pagará por esse dano. Graças à imagem em movimento – e à invenção da câmera digital - esse terror ficará para sempre marcado na carreira política do senhor Zaff, junto ao seu desprezo pelas populações pobres e marginalizadas, o seu racismo, a sua desfaçatez, a sua total ausência de compaixão, a sua covardia. O Governo Jorge Roberto Silveira tenta imprimir – a ferro e fogo – a imagem de que a Região Oceânica de Niterói não é “Terra de Índio” e, sim, uma Mônaco tropical, cafona e de cunho privado, destinada a novos burgueses e bem-nascidos. Mas a verdade luminosa que o Brasil inteiro é – por direito ancestral – berço e morada legítima dos Povos Originários – e de seus descendentes – para sempre resplandecerá nessa terra.
Por favor, repassem.
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