quarta-feira, 30 de abril de 2008

Instruções do Guru (3)

“Obter a assistência e ajuda de um mestre
espiritual fidedigno significa receber a ajuda direta do próprio Senhor.”
SB 1.19.36


Uma das dificuldades que passamos aqui em Goura Vrindávana é a falta de devotos. Poderíamos desenvolver muito mais esse projeto se tivéssemos mais devotos engajados. Não estou aqui me queixando, isso é somente uma análise da situação. Sei que muitos devotos estão se preparando na universidade, outros ganham muito bem em seus empregos, outros tem sérias obrigações familiares ou responsabilidades com dependentes e familiares, que os impedem a tomar uma decisão radical de viver no campo. Por outro lado, sei também que existem aqueles que se acomodam ou estão “de bobeira”, os que têm sub-empregos ou não têm grandes perspectivas na vida. Esses têm a chance de melhorar a qualidade de suas vidas, mas, em geral, desperdiçam a oportunidade.

A vida nas cidades oferece muitas facilidades: shoppings, hipermercados, entretenimentos, acesso fácil à última tecnologia, última moda, créditos para financiamentos, vida social intensa e outras amenidades. Por outro lado, existem inconvenientes muito sérios que levam muitas pessoas a problemas de saúde e desajustes psicológicos crônicos. Um dos aspectos da vida urbana é a atmosfera bastante insalubre, tudo muito poluído, a começar pelo ar que se respira. A pureza dos alimentos é também sempre questionável. Dias atrás foi amplamente noticiado que a maioria do alface, tomate e morango vendidos no mercado é contaminado com agrotóxicos e pesticidas. Outros alimentos industrializados contêm produtos químicos para estimular o sabor e a coloração, mas que são perniciosos à saúde quando uso é prolongado. Daí o número tão grande de casos de câncer. Seria ótimo se os devotos em geral fossem mais estritos nos hábitos alimentares e ficassem livres ao assédio do marketing das indústrias alimentícias que investem somente na aparência e no desfrute da língua. A filosofia da consciência de Krishna nos dá o respaldo para poder discernir sobre a qualidade dos alimentos. Não basta ser somente vegetariano. É preciso ter critérios para avaliar o que se deve comer ou não.

Outro problemão das cidades é a avassaladora onda de violência urbana. Os jovens das favelas e periferia são, hoje em dia, atraídos para a criminalidade. É o meio mais fácil de conseguir dinheiro para suprir o vício das drogas, para se vestir com os jovens da classe média, para curtir os embalos, para comprar uma moto, etc. É muito fácil: é só encostar um revolver na cabeça de qualquer pessoa e sair dirigindo o carro roubado, ou entrar num ônibus e sacar todos os pertences das pessoas. Por que arranjar emprego e ter que trabalhar duro, se a pessoa tem oportunidade de conseguir dinheiro tão fácil? Por que eles têm e eu não tenho? Essa é a lógica dos bandidos. Essa semana mesmo recebi notícia de uma senhora devota iniciada em uma cidade do Sul que teve que entregar seu carro para os bandidos sob a mira de armas. Que situação desgraçada! Eu, quando vou a uma cidade de carro, sinto no ar quão desamparado estou. A qualquer momento, posso ser abordado e perder todos os meus pertences, e ainda me considerar com sorte se sair com a vida do assalto. Definitivamente, a cidade virou o lugar dos bandidos e as pessoas são meras presas fáceis para todo tipo de pilhagem. Quando o malandro entra para o banditismo, matar um ou matar trinta, não faz diferença.

E o trânsito? Quando vejo os engarrafamentos na Marginal em São Paulo ou na Av. Brasil, no Rio, vem sempre na minha mente a imagem de que as pessoas presas em seus carros ou apinhadas nos ônibus estão condenadas a ter que sofrer esse castigo dia após dia. Só pode ser por castigo... Essa é a minha impressão. Livrar-se desses inconvenientes é, hoje em dia, uma benção muito especial.

Bem, vou parar por aqui... Não vou me alongar mais, pois tudo isso é do conhecimento de todos. Não quero, tampouco, ser alarmista nem causar nenhum tipo de constrangimento àqueles que estão irremediavelmente comprometidos com o meio urbano. A consciência de Krishna pode ser praticada em qualquer situação e quanto a isso, as cidades oferecem as melhores oportunidades para pregação. Aqueles que vivem na cidade podem compensar todas essas inconveniências com uma participação mais ativa nos programas do templo local e no suporte aos projetos do campo. Isso vai satisfazer a Srila Prabhupada e naturalmente muitas bênçãos virão.

Para aqueles que têm possibilidades de mudar esse paradigma de vida, deixo aqui meu convite e incentivo. Recentemente, o casal Bala Gopal e Lila-murti vieram morar na comunidade. Um casal do Sul, Sri Rama e Satyavati, estão acelerando os planos para virem estabelecer um centro de medicina ayurvédica em nossa comunidade. E outros estão em fase de sondagem e preparação.

Convoco, especialmente, a rapaziada. Venham ajudar a construir esse maravilhoso projeto, que é um projeto para toda a vida. Um projeto revolucionário e de muito impacto. Um projeto que prega na prática a “vida simples e pensamento elevado”. É realmente o que essa sociedade sem cabeça precisa saber: que existe uma alternativa à vida medíocre, improdutiva e viciosa, e, em muitos casos, degradante, que normalmente se leva.

Só uma coisinha mais: Na vida no campo, temos a excelente oportunidade de dormir cedo e acordar cedo. Essa é uma benção especialíssima. As melhores horas do dia: Mangala-artik, japa e aula de Srimad-Bhagavatam. Considero a rotina urbana de dormir tarde e acordar tarde como outro tipo de condenação...


Purushatraya Swami

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