quarta-feira, 30 de abril de 2008

Ecologistas questionam a queima de resíduos

Por Mario Osava*

O projeto Usina Verde tenta contribuir para o controle da mudança climática a partir do lixo, mas pode ser fonte de outras contaminações.

RIO DE JANEIRO.- O projeto Usina Verde pretende gerar energia no Brasil, eliminando lixo urbano, e contribuir para o controle do aquecimento global. Porém, não é bem visto por grupos ambientalistas porque utiliza a incineração. A usina-piloto do projeto, que contou com capital de uma empresa privada de mesmo nome, iniciou suas operações em maio de 2005, no Rio de Janeiro, e já transforma 30 toneladas diárias de lixo em 2,6 megawatts de energia. Os patrocinadores da Usina Verde esperam vender unidades como esta a vários municípios do país.

O plano “não pode ser considerado limpo nem sustentável”, disse ao Terramérica Temístocles Marcelos, secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Ongs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente (FBOMS). Os incineradores são fontes de contaminantes orgânicos persistentes (COP), como dioxinas, furanos e metais pesados, condenados pelo Convênio de Estocolmo (2001), por provocar danos à saúde de várias gerações, acrescentou. As dioxinas são cancerígenas, afetam o sistema endocrinológico e são transmitidas pela cadeia alimentar, inclusive pelo leite materno. Os COP presentes nos gases, cinzas e outros resíduos da incineração são perigosos, mesmo em proporções inferiores às permitidas pelas normas nacionais, ressaltou.

Entre os benefícios da Usina Verde, entretanto, figura a eliminação dos grandes lixões e aterros sanitários que poluem o ar e as águas subterrâneas. E a possibilidade de render créditos de carbono no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Kyoto (1997), que permite a países industrializados investir em projetos de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa em países em desenvolvimento. O projeto, um dos 72 já aprovados pelo brasileiro Comitê Interministerial de Mudança Global do Clima, tem de passar pelos trâmites das Nações Unidas para entrar no mercado de carbono.

Foi projetado pelo Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (Centro Clima), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a partir de tecnologia desenvolvida pela empresa Usina Verde em associação com universidades. Seus créditos virão da redução de gases que aquecem a Terra, isto é, o metano gerado pelo lixo e o dióxido de carbono derivado da geração elétrica por combustíveis fósseis como petróleo e carvão, e também dos caminhões que transportam lixo para locais distantes.

Uma usina-piloto no campus da UFRJ processa 30 toneladas diárias de lixo, produzindo eletricidade por meio de sua “queima controlada”. Do lixo recebido da empresa de limpeza urbana, são retirados os materiais recicláveis e os não-combustíveis. Os gases e vapores produzidos pela combustão, em temperatura de 850 mil graus, são esfriados novamente e lavados para evitar a contaminação, processo do qual resultam sais minerais e água pronta para reutilização. As cinzas e o restante não-inflamável equivalem a 8% dos resíduos utilizados e, junto com os sais decantados, destinam-se à produção de pisos e ladrilhos.

No futuro, se ficar comprovado que não são tóxicos, também poderão ser usados na agricultura, para corrigir solos ácidos, disse Emilio la Rovere, coordenador do Centro Clima. A empresa Usina Verde colocou à venda unidades modulares que processam 150 toneladas diárias de lixo, com potência de 2,6 megawatts, o suficiente para fornecer eletricidade a 7,6 mil residências com consumo médio de 200 quilowatts/hora mensais. Esse sistema é empregado em 35 países, especialmente europeus, incinerando 14 milhões de toneladas anuais na Alemanha e Espanha e 26 milhões nos Estados Unidos, destacou Rovere.

É uma alternativa válida no Brasil, onde a maior parte do lixo urbano se acumula em lixões a céu aberto ou em aterros sanitários, causando graves danos ambientais e conflitos entre municípios das áreas metropolitanas, por causa da “exportação” de lixo e da escassez de áreas para seu depósito, afirmou. O projeto, além disso, é economicamente viável diante dos custos dos aterros sanitários. Sua energia não é tão barata quanto a hidrelétrica, o que se compensa com os créditos de carbono e fatores como a proximidade da fonte e empregos gerados na mesma cidade.

Porém, segundo Marcelos, sua aprovação no âmbito do Protocolo de Kyoto estimularia certas empresas a “multiplicar essas unidades de Usina Verde” por interesses comerciais, buscando “publicidade verde”, em detrimento de outras opções melhores para tratar e aproveitar os resíduos sólidos urbanos. A reciclagem gera mais empregos e estimulou a organização de muitas cooperativas de coletores de lixo, em um movimento de inclusão social que seria travado pela “incineração de sua matéria-prima”, acrescentou. A Usina Verde também pode adotar tecnologias estrangeiras que reduzam ainda mais as emissões de dioxinas e furanos, ressaltou Rovere. Além disso, o Brasil está queimando muito lixo sem controle e seu uso termoelétrico é proposto apenas como uma alternativa para o manejo adequado de, talvez, “entre 5% e 10%” do lixo urbano, concluiu.

* O autor é correspondente da IPS.

http://www.tierramerica.net/portugues

http://www.usinaverde.com.br/

http://pt.wikipedia.org/Aquecimento_global

Um comentário:

residuos disse...

plan nacional de resíduos sólidos Brasil: www.redsolenergy.com / pnrs.pdf
Plantas Tratamento BASURA_CERO "
Uma alternativa para os problemas ambientais dos resíduos sólidos urbanos é a construção de estações de tratamento, os resíduos sólidos para produzir electricidade.
Em http://www.redsolenergy.com nós concepção e construção dos resíduos sólidos, eliminando assim o principal problema dos resíduos e na produção simultânea de eletricidade limpa e renovável. Nossas instalações e projetos para evitar que o ambiente emitem grandes quantidades de CO2, evitar problemas de resíduos, para eliminar focos da doença, a produção de electricidade limpa, renovável e criar empregos sustentáveis.
Nós trabalhamos na construção de fábricas na Europa e América.