Materializadas em bits toxinas neurais trazidas pelos ventos daquilo que simplesmente é. Isto é nada se não for para o Todo.
terça-feira, 25 de março de 2008
Um belo jogo de cena
Como previsto, o debate da ACCRJ no CCBB, na Quinta-feira Santa, foi um encontro memorável entre Eduardo Coutinho, Eduardo Escorel e João Moreira Salles, acolitados pelo docblogueiro e pela crítica Maria Sílvia Camargo. Um show de inteligência, humor e camaradagem entre três amigos e colaboradores recíprocos. Longe de qualquer pretensão de resumir a conversa para quem não estava presente, deixo aqui algumas linhas do que foi dito na mesa. Apesar das aspas, não é uma transcrição literal, mas de memória, feita com a ajuda de Rosane Nicolau, Susana Schild e Patrícia Rebello.
Coutinho sobre Santiago: “Para mim, o mais importante no filme não é a distância entre patrão e empregado, mas a crítica da busca pelo quadro perfeito”.
João sobre Jogo de Cena: “O público e a crítica se apegaram muito ao ‘jogo de sete erros’ entre verdade e representação. Mas acho que comparar o filme com a realidade lá fora não é uma coisa essencial. O que interessa de fato é só o que está dentro do filme”.
Escorel: O trabalho do Santiago com as fichas dele me lembrou não só o do Bispo do Rosário, como também o do Gabriel Joaquim dos Santos, que construiu com cacos a Casa da Flor. Ele foi personagem de O Fio da Memória, um filme que o Coutinho acha fracassado. Eu o aconselharia a refazê-lo agora como ficção”.
João: “Tenho guardados todos os cortes dos filmes do Eduardo (Coutinho) desde Babilônia 2000. Quem sabe sirvam um dia para alguma coisa...”
Escorel: “Montar é decifrar o filme que o diretor já deixou latente no material bruto.”
Diálogo: João: “Quando mostrei o material bruto de Santiago pela primeira vez ao Eduardo (Escorel), perguntei se aquilo dava filme e ele me respondeu: ‘Sempre dá filme’.” Coutinho, para Escorel: “Você disse isso mesmo sem beber?!”
Escorel: “Já tive relações conflituosas com diretores de filmes que montei, mas com Santiago tudo foi puro prazer. Além do mais, tínhamos somente oito horas de material bruto. Cabra Marcado para Morrer tinha doze horas no total. Se fosse hoje, não teria menos de quinhentas.”
João: “O documentarista deve ser fiel ao personagem, não necessariamente à pessoa. Alguma coisa que é dita pode ser muito importante para a pessoa, mas se não for para o filme, deve sair. Do contrário, aí sim seria uma traição”.
Diálogo: Escorel, perguntado por que não monta mais os filmes do Coutinho: “Por que ele não me chama.” Coutinho: “Não chamo porque fumo demais na ilha de edição. Você não ia agüentar. E também porque eu tenho medo de você.”
Coutinho, perguntado se reviu Procurando Nemo depois de fazer Jogo de Cena: “Se já não gosto de ficção, imagine ficção desenhada. Um assistente me deu uma cópia do Nemo, mas minha mulher se recusou a passá-la em casa porque era pirata. Recentemente, em Belo Horizonte, ouvi uma música lindíssima e fui informado de que era de Mowgli, o Menino-Lobo. Vejam só o que tem acontecido comigo”.
João: “Quando comecei a fazer documentários, não sabia bem o que era isso. Mais tarde, na convivência com os Eduardos, aprendi que documentário é muito mais uma conversa para dentro do que para fora, para o mundo”.
Enviado por Carlos Alberto Mattos
http://oglobo.globo.com/blogs/docblog/
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