Começou, de novo. Deveria então dizer, recomeçou. É isso.
Recomeçaram hoje as negociações de clima da ONU em Bonn. Esta fase é conhecida pelo íntimos como Bonn 3.
3 porque é a terceira vez neste ano que os representantes de mais de 170 países se reunem aqui em Bonn para negociar os termos do tratado de clima que deverá ser finalizado em Copenhage, na Dinamarca. Seguindo as tradições e os preceitos da educação e dos bons costumes, cá estamos, Greenpeacearianos, na cola deles.
Quando, há 6 semanas, acabou “Bonn 2″, escrevi neste mesmo blog sobre a saída dos negociadores. Para eliminar distorções em minhas observações, estou sentado exatamente no mesmo lugar. Naquele dia, relatei que via alguns deles cabisbaixos, outros envergonhados, uma minoria esperançosa… Agora, vejo os mesmos rostos chegando com semblantes renovados pelo verão do hemisfério norte, alguns trocam abraços, outros acenam. Vários sorriem. Cabisbaixos só aqueles que já sofrem com os impactos das mudanças do clima e não veem muita esperança nas negociações. Mas estes são minoria.
Engraçado isso. Quem mais sofre com as mudanças do clima é minoria por aqui - ao mesmo tempo que é maioria no Planeta. Vamos aos números oficiais da lista de participantes. No total, 2340 pessoas participam das negociações. 1372 são representantes oficias de países, 914 são de organizações observadoras - Greenpeace inclusive - e 54 (só) são da imprensa.
Até ai nenhum problema. Mas ainda estamos na primeira página. Na página seguinte as discrepâncias já começam a aparecer. O Afeganistão tem 2 representantes. Se são 179 países incritos e 1372 representantes, na média cada país deveria ter 7,66 (alguns negociadores dos países ricos valem menos que uma pessoa normal.
Continuamos: Armenia, Barbados, Butão, Congo, Cuba, El Salvador, Gâmbia, Haiti, etc… Tem 2 representantes cada.
Bahamas, Camarões, Croácia, Eritrea, Estônia, Guyana, Israel, Jamaica, Nauru, Myanmar, Paraguay, tem 1 (um, só um, unzinho, nada mais do que UM) representante cada.
O Greenpeace tem 29.
Os Estados Unidos tem 39. O Japão, 48 e a Dinamarca, campeã absoluta, quase 70.
Percebeu o desbalanço? Ou deveria dizer, a desigualdade? Aqueles que mais precisam de um resultado justo, ambicioso e efetivo são os que menos podem lutar por ele!
As negociações de clima são um negócio complexo. Hoje, por exemplo, está sendo negociado como os negociadores vão negociar. Dentro de um dos blocos, o de compromissos de longo prazo, existem 5 sub-blocos, com 4 sub-sub-blocos. No outro, Quioto, são mais 4 sub-blocos e vários sub-sub-blocos. Isso sem contar as reuniões fechadas e paralelas entre os países e grupos de negociação.
Com esse monte de sub-sub-sub-blocos em mente, fico imaginando como uma pessoa pode, sozinha, entender e negociar tudo de mitigação, adaptação, transferência de tecnologia, financiamento, REDD, CDM, NAMAS, NAPAS, arquitetura legal, jurisdição, direito inernacional, metas, IPCC, LCAPs, ZCAPs, etc…
Ou eles são gênios - e não nego que alguns até podem ser - ou, mais provavelmente, não cuidam de tudo, visto que além da complexidade técnico-político-econômico-acronômica, também existe o problema da sincronicidade. Muita coisa acontece ao mesmo tempo.
Por aqui existem algumas TVs em circuito fechado que mostram a agenda do dia. Uma lista onde aparece o nome da sala, o horário e o que estará sendo negociado por lá. Para as 16:30 já temos três coisas agendadas em locais diferentes.
Nessas horas, imagino que os representantes-solo devem lembrar dos desenhos animados de sua infância e pensar “onde é que está o Multiman quando se precisa dele?”
fonte: www.greenblog.org.br
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