sexta-feira, 15 de junho de 2007

Entrevista com Luis Galvão

PEQUENA SABATINA AO ARTISTA

Por Neuzamaria Kerner


Era 1969. No palco do Teatro Vila Velha (Salvador – Ba) duas meninas com os corpos pintados de branco faziam vôos rasantes sobre a platéia, sentadas em balanços. A luz negra incidia sobre as meninas do balanço, deixando que seus corpos brilhassem, enquanto o som de guitarras e bateria, acompanhavam o coro dos artistas no palco: “É barra, Lúcifer!”

O espetáculo? Desembarque dos bichos depois do dilúvio. Participantes? Os ilustres desconhecidos, estranhos, radicais e acintosos: Luiz Dias Galvão, Antonio Carlos de Moraes Pires Moreira, Paulo Roberto de Figueiredo, Bernadete Dinorá de Carvalho Cidade, e, ainda, Pedro Aníbal de Oliveira Gomes, Jorginho, Carlinhos e Lico. À exceção de Bernadete, todos baianos. Foi o início dos Novos Baianos.

Na platéia, não se distinguia bem o que cantavam, mas isso não importava muito, visto que a maioria do pessoal acompanhava o ritmo pulando e gritando. No dia seguinte, um crítico baiano afirmaria: “Se isso for arte, eu me suicido”. Será que ele cometeu suicídio?

É 2007. Numa conversa com o Diversos Afins, Galvão, poeta e mentor do grupo, disse ser um dos inventores dos Novos Baianos. Claro, os outros eram os “rípis” de Salvador: Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor, Baby Consuelo (hoje Baby do Brasil) e Pepeu Gomes.


DA – Você sempre foi considerado o poeta e líder do grupo ainda em Juazeiro. Você se sentia líder mesmo do grupo?

GALVÃO – Eu, embora já tivesse cantando no banheiro lá em Juazeiro e nos ensaios do grupo de Valter Santos, um ex-componente do grupo de João Gilberto, preferi não contar isso e fiquei de poeta e diretor. Só agora que estou cantando a pedido de João Gilberto. Lá (em Juazeiro), eu e o maior poeta da terra, Pedro Raymundo Rodrigues Rego, um arquiteto que era a própria poesia, mas só teve um livro publicado pós-morte, não corríamos da responsa. Dava entrevistas em nome do grupo, a pedido de todos, mas quando o assunto era música, eu ouvia quem sabia mais.

DA – Depois de seu encontro com Moraes Moreira saiu logo a Preta Pretinha que hoje é uma espécie de hino da Bahia?

GALVÃO – Não. Saíram Ferro na Boneca, Colégio de Aplicação e outras do LP Ferro na Boneca e ainda algumas que nunca foram gravadas. Três Letrinhas nasceu ali e só foi gravada agora por Marisa Monte. Essa música foi feita nos primeiros 12 dias em que eu e Moraes nos conhecemos, mas como éramos mais roqueiros do que qualquer coisa, não a gravamos no primeiro LP e no segundo esquecemos dela. Leilinha, mulher do Dadi (baixista que passou a fazer parte dos Novos Baianos) ouvira nos anos 70, lá no apartamento de Botafogo, e recentemente cantarolou um tantinho para Marisa que se encantou. Leilinha me telefonou e eu não lembrava que tinha aquela música, mas lembrei da letra e Moraes também lembrou, inclusive da música.

DA – Vocês são considerados até hoje como um grupo revolucionário da MPB. O que você diz sobre isso?

GALVÃO – O que é evolucionário e até mesmo revolucionário nunca deixa de ser, pode ser superado, mas não vejo nada pronto naquele nível. Veja, por exemplo, Os Mutantes, com Zélia Duncan e Arnaldo, bem aquém do que eram, e estão acontecendo mais do que qualquer coisa. Nós fomos revolucionários quando rompemos tabus, jogamos sal no café da mediocridade da própria mídia dos anos 70 e esculhambamos o dinheiro. Mas também fomos evolucionários quando recompomos a boa música brasileira.

DA – E seu encontro com Pepeu confirmou essa revolução?

GALVÃO – Sim. Pepeu, com a musicalidade adquirida de sua mãe, no grupo, enriqueceu a modernidade musical através da guitarra tocada com o pique Hendrix, com o dedo de João Gilberto.

DA – Hoje a divulgação é muito grande, a mídia é mais poderosa, o dinheiro corre mais solto para que se divulgue bem...

GALVÃO – A mídia, "Buche" lá e cá e em qualquer lugar. Nos anos 70 Preta Pretinha ficou 8 meses em primeiro lugar sem pagar um tostão, mas João Araújo, o pai de Cazuza, era o nosso produtor, gostava de música e não havia ainda o domínio da molequeira tocativa.

DA – Recentemente você fez um show em São Paulo. E aí?

GALVÃO – Foi em 28 e 29 de outubro do ano passado e tava lá Baby, Davi Moraes (filho de Moraes Moreira), Emanuelle Araújo (doméstica na novela Pé na Jaca e está no filme Ó paí ó) e Peu Souza que foram os convidados. O público foi maravilhoso e como o show era inédito e eu o considero novo, diferentão, ficou marcado em algumas pessoas.

Um comentário:

Anônimo disse...

boa tarde, sou produtor de sp e estou precisando de um contato de luis galvão. vocês poderiam me ajudar ? atenciosamente, marcelo del rio.