7 de maio de 2010
“A gente vai perdendo a esperança e não sabe mais a quem recorrer”. Esta frase dita por Bráulio Armoa, liderança Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul, mostra o estado de espírito deste povo frente a tantos problemas que vêm sofrendo naquele estado e a disposição que têm em buscar apoio em outras regiões.
Por isso, sete representantes deste povo chegaram em São Paulo, nesta quinta, para fazer contatos com grupos e entidades da capital paulista e sensibilizá-los sobre a situação em que estão vivendo.
Nesta semana, em São Paulo, iniciou-se o julgamento dos acusados do assassinato de Marcos Verón, liderança indígena morta em janeiro de 2003, em Juti, no interior de Mato Grosso do Sul.
Na ocasião, quatro homens armados ameaçaram, espancaram e atiraram nos líderes indígenas no assentamento indígena, atingindo o cacique Veron, com 72 anos, que sofreu traumatismo craniano, morrendo logo a seguir. Por não haver isenção nos julgamentos envolvendo indígenas naquele estado, o Ministério Público Federal pediu que o processo fosse julgado na capital paulista.
Contudo, os representantes do Ministério Público Federal (MPF) que acompanhavam o julgamento, abandonaram a sessão no segundo dia porque a decisão da juíza Paula Mantovani Avelino, foi no impedimento de que indígenas, vítimas e testemunhas, pudessem se expressar em sua própria língua Guarani.
Guarani resistem
A violência no Mato Grosso do Sul não apenas continua, como tem aumentado. Em 2006 foram mortos 28 indígenas, em 2007, 53 indígenas, e em 2008, 42 pessoas. Desta forma, as lideranças indígenas representando as aldeias Kurusu Ambá, Ypo´í, Laranjeira Nhanderu, Taquara e Nhanderu Marangatu, querem expor a difícil realidade em que vivem.
No ano passado, dois professores indígenas Guarani Kaiowá desapareceram de suas terras, sendo que o corpo de um deles foi encontrado morto, embora o segundo até hoje está desaparecido.
Familiares destes dois professores, além de representantes das aldeias Kurussu Ambá, onde no ano passado foram assassinadas duas lideranças, e representantes da aldeia Laranjeira Nhanderu, cuja comunidade foi despejada por ordem judicial, estando as famílias indígenas acampadas à beira da BR 163.
O que se questiona agora é a falta de isenção do judiciário regional, que pouca sensibilidade tem para com estes povos originários, favorecendo de maneira sistemática os fazendeiros e pessoas ligadas ao agronegócio.
Para compreender esse contexto, o Conselho Indigenista Missionário do Mato Grosso do Sul e da Grande São Paulo (CIMI MS e SP), Pastoral Indigenista de São Paulo, Programa Pindorama da PUC/ SP, Museu da Cultura da PUC/SP e Núcleo de Estudos de Etnologia Indígena, Meio Ambiente e Populações Tradicionais (NEMA) organizaram uma programação em São Paulo.
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AGENDA EM SÃO PAULO
07 de maio, sexta, às 19h00 - No pátio do Museu da Cultura da PUC-SP (Rua Monte Alegre, 984, Perdizes, tel.: 3670 8331 / 8559), projeção do vídeo Terra Negada (CIMI MS) e debate com estas lideranças, aberto ao grande público;
08 de maio, sábado, às 9h, Fala das lideranças indígenas no Curso da Defensoria do Estado de São Paulo – A questão indígena: caminhos e desafios – (Defensoria da União, Rua Fernando de Albuquerque, 155, Consolação, restrito aos participantes do curso).
08 de maio, sábado, a partir das 14h, Breve fala das lideranças indígenas, antes do debate do Sábado Resistente, no Memorial da Resistência de São Paulo – Largo General Osório, 66 – Luz, Auditório Vitae – 5º andar. Após este momento, as lideranças se colocam à disposição, no espaço externo do evento, para entrevistas agendadas.
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REIVINDICAÇÕES
- a urgente conclusão da identificação e demarcação de todas as terras Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul;
- que dentro dos próximos 80 dias, a FUNAI tome providências necessárias para o reconhecimento e permanência da comunidade Kurusu Ambá em suas terras, ressaltando que o grupo de trabalho de identificação da FUNAI está paralisado;
- que ocorra a punição dos responsáveis pelos assassinatos de todos os Guarani Kaiowá, nos últimos anos, na luta por seus direitos;
- que aconteça o julgamento imediato, dos acusados do assassinato da liderança Guarani Marcos Verón;
- que haja o empenho da Polícia Federal para a localização do corpo do professor Olindo Vera, desaparecido há mais de 6 meses e a punição dos assassinos do professor Genivaldo Vera;
- que se faça o julgamento imediato da Terra Indígena Nhanderu Marangatu, pelo Supremo Tribunal Federal;
- a urgente solução para a dramática situação em que se encontra a comunidade Laranjeira Nhanderu, despejada na beira da BR-163, em setembro de 2009, encontrando-se em situação de extrema insalubridade, violência e miséria.
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fonte: MST
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